A suspensão de sanções econômicas dos Estados Unidos à Venezuela fez subir a procura por títulos emitidos pelo país latino, melhorando rendimento de fundos que apostavam nos papéis soberanos do vizinho sul-americano e da petrolífera PDVSA, classificados como “default” desde 2017. Essa tendência de melhora pode ganhar um impulso a mais, caso o país volte a fazer parte dos índices de títulos de mercados emergentes.
“Os vencedores são todos aqueles que colocaram recursos (em papéis) na Venezuela ou conseguiram comprar nos níveis mais baixos”, disse Hans Humes, chefe da Greylock Capital Management, detentor de dívida de longo prazo venezuelana.
A Venezuela e a PDVSA têm cerca de US$ 60 bilhões em títulos em circulação. Com o default da dívida e as restrições até então em vigor pelos Estados Unidos, esses papéis passaram a ser negociados a poucos centavos de dólar, característica de alguns ativos de “distressed“, em geral, emitidos por empresas em crise financeira. Na verdade, esses títulos seguem cotados a centavos, mas tiveram uma valorização expressiva nas últimas duas semanas.
Os papéis soberanos chegaram a custar US$ 0,02 e alcançaram US$ 0,13. Movimento similar ocorreu com os da PDVSA, que chegaram a ser cotados a US$ 0,05 e atingiram US$ 0,17.
O governo de Joe Biden suspendeu as restrições e agora empresas americanas podem investir no país. Os Estados Unidos também podem importar petróleo, gás e metal – a Venezuela tem jazidas de ouro. O acordo foi feito após o governo de Nicolás Maduro liberar alguns presos políticos. O alívio deve continuar com a realização de eleições na Venezuela no próximo ano.
E a suspensão das sanções de fato já começa a render mais negócios para a Venezuela. A PetroChina estuda voltar a comprar petróleo venezuelano. Já a Chevron quer fazer novas perfurações nos campos venezuelanos e espera que a produção no país tenha um crescimento de 15%.
Índice do JP Morgan
Em meio a esses anúncios, o JP Morgan comunicou que colocou cerca de US$ 53 bilhões de títulos da Venezuela e da PDVSA em observação por um período de três meses. Se o resultado final for colocar o país nos índices de títulos de países emergentes, a demanda por crédito venezuelano irá subir, elevando os preços dos papéis.
Alguns investidores se adiantaram a esse movimento e viram os ganhos de suas carteiras aumentar.
A Altana Wealth tem papéis da Venezuela em seu fundo de oportunidades de crédito. Lee Robinson, fundador da gestora, afirma que foi de fato uma aposta, mas que deu certo após a retirada de algumas sanções. Os retornos do fundo subiram mais de 60% desde 2020.
“Poderia ter sido um trade deficitário”, disse ele em entrevista à Bloomberg.
Embora ainda não esteja claro que a dívida será renegociada, os bancos de investimento já começam a fazer seus cálculos. Nas contas do Bank of America, uma reestruturação levaria a uma perda de 40% para os detentores da dívida.
Essa especulação faz com que mais gente queira entrar na mesma aposta.
“Antes do fim da sanção comercial, conversávamos com dois, três clientes sobre a Venezuela. Agora, falamos com até 20”, disse Francesco Marani, chefe de negociação da empresa de investimentos Auriga Global Investors.
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