Pelo segundo ano consecutivo, a quantidade de empresas listadas voltou a cair na Bolsa brasileira. Em 2022, a B3 contava com 449 listadas e, no fim de novembro de 2023, contava com 436 companhias.
O número de empresas que deixaram a Bolsa foi o mais elevado dos últimos quatro anos e especialistas ouvidos pelo InfoMoney consideram que a tendência pode se intensificar.
Os dados da B3 apontam que, entre registros cancelados até fim de novembro de 2023, 13 empresas deixaram a Bolsa neste ano e nenhuma abriu capital.
De acordo com levantamento realizado pelo consultor independente Einar Rivero, a pedido do InfoMoney, a B3 apresenta total de 394 empresas com negociação em 20 de dezembro de 2023, sendo que 40 delas não apresentam negociação. No mês de dezembro, de todas as companhias listadas, apenas 336 apresentaram negociação no mês.
Empresa | Código | Data da última cotação |
BRMalls | BRML3 | 06/01/2023 |
Dommo | DMMO3 | 06/01/2023 |
Hermes Pardini | PARD3 | 28/04/2023 |
IDB S/A | IGBR3 | 06/06/2023 |
Modalmais | MODL3 | 30/06/2023 |
Boa Vista | BOAS3 | 07/08/2023 |
Saraiva | SLED4 | 03/10/2023 |
Com o avanço da taxa básica de juros, que saltou de 2,00% ao ano (a.a.) para 13,75% a.a. entre 2021 e 2023, os IPOs (ofertas públicas de ações em bolsa, na sigla em inglês) zeraram em 2022 e havia expectativa de retomada tímida em 2023, que não se concretizou.
Agora, com o ciclo de ajustes iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e a sinalização de pausa no movimento altista de juros pelo FOMC (equivalente ao Copom nos EUA, vinculado ao Federal Reserve), a projeção de economistas é que a Bolsa volte a se tornar atrativa para novas companhias.
Ainda assim, devido à continuidade na volatilidade do mercado de ações e nas persistentes incertezas econômicas, é possível que o movimento de deslistagens continue, conforme explica Paulo Martins, fundador e CEO da Anova Research.
De acordo com o especialista, mesmo que não haja nenhum papel que já anuncie movimentação nesse sentido, as condições que levaram companhias a deixarem a Bolsa em 2023 ainda se apresentam para diversos papéis.
“A volatilidade do mercado de ações pode levar os acionistas controladores a recomprar as ações de suas empresas, a fim de reduzir custos e evitar a exposição ao risco ou até uma busca de maior flexibilidade na tomada de decisões e de evitar a divulgação de informações confidenciais”, considera.
Ações que deixaram a Bolsa
O ano começou com a despedida da brMalls da Bolsa, após fusão com a Aliansce Sonae (ALOS3). A administradora de shoppings centers também mudou seu nome e ticker junto à B3 neste ano e passou a se chamar ALLOS, alterando o ticker anterior, ALSO3.
Com a fusão, a administradora tornou-se o maior nome do setor na América Latina. O grupo tornou-se nacional, com 62 shoppings no portfólio, com presença em mais de 15 estados brasileiros. A integração com a companha adquirida no início do ano tem caminhado de acordo com as projeções da companhia, de acordo com Daniella Guanabara Santos, diretora financeira e relações com investidores da ALLOS.
O Nubank (ROXO34) figura entre os dados levantados na B3 sobre empresas com registro cancelado. O caso do banco digital, contudo, é um pouco diferente, porque a companhia segue listada na Bolsa de Nova York e promoveu apenas o cancelamento de listagem como companhia estrangeira na B3.
O movimento se deu pelo encerramento do programa de BDR nível III, que permitia a chamada “dupla listagem” mas também previa cumprimento de mais exigências. A partir de agosto de 2023, a companhia passou a ser listada apenas na NYSE e seus BDRs foram alterados para nível I, que não requerem registro de companhia aberta no Brasil.
Além da movimentação do Nubank, o Banco Modal solicitou o cancelamento do registro de companhia aberta após fusão com a XP (XPBR31). A aquisição pela XP foi realizada em 2022 e concluída em julho deste ano. Os acionistas da companhia receberam ação preferencial mandatoriamente resgatável da XP para cada papel ordinário do Modal.
Dentre as companhias que saíram da B3, está também a Hermes Pardini, que foi comprada pela rede de laboratórios concorrente Fleury (FLRY3). A fusão foi concluída em 2023 e faz parte do plano de expansão do Fleury, saiu de receita anual de R$ 4,8 bilhões para R$ 7,1 bilhões com a combinação entre as gigantes do setor.
A transação foi iniciada em junho de 2022, com acordo realizado entre as partes, e foi bem recebida no mercado. No dia do anunciou, as companhias apresentaram altas de 16,10 para Fleury e 18,99% para Hermes Pardini. A complementariedade entre as companhias justificou visão positiva de analistas para o negócio, que foi concluída com o cancelamento do registro da Hermes Pardini em 28 de abril de 2023.
Entre as saídas por fusões, a Boa Vista Serviços solicitou o cancelamento voluntário de sua listagem perante a B3 em razão de incorporação da totalidade de suas ações pela Equifax do Brasil em agosto. A proposta realizada pela companhia supunha a combinação dos negócios e contou com prêmio de 67% para acionistas.
Conforme antecipado no ano passado, a Dommo Energia deixou a Bolsa em março após incorporação das ações pela subsidiária da PRIO (PRIO3). A companhia, que corresponde à antiga OGX de Eike Batista, possuiu 20% do campo Tubarão Martelo, na Bacia de Campos (RJ) mas não detinha caixa suficiente para realizar a exploração.
O único ativo da Dommo é o direito de receber 5% da receita (deduzida de royalties) dos campos de Tubarão Martelo e Polvo, localizado no sul da Bacia de Campos. O cluster é operado pela Petrorio, atualmente produz cerca de 17,5 mil barris de óleo por e passará por mais uma campanha de revitalização no futuro.
A IGB Eletrônica, dona da Gradiente, conseguiu concluir seu processo de cancelamento de registro de companhia aberta em junho de 2023, após ter o processo de oferta pública de aquisição de ações (OPA) suspenso pela CVM. A suspensão foi solicitada pela companhia para obtenção de prazo adicional para divulgação do edital e foi concedida, em janeiro de 2023.
A Saraiva, que enfrentava dramático processo de recuperação judicial, pediu falência em outubro de 2023 e a teve decretada pouco tempo depois. Desde o pedido, as negociações das ações foram suspensas na B3 após o pedido e, em 11 de novembro, a companhia teve sua listagem cancelada em razão da decretação da sua falência.
Ainda fora do levantamento da B3, que trouxe dados até o fim de novembro, a JHSF realizou movimentação de deslistagem de sua subsidiária com foco em shoppings centers, a JHSF Malls. A companhia aprovou o cancelamento de registro de companhia aberta ainda em julho mas o processo foi concluído apenas recentemente, com a finalização da operação junto à CVM em 6 de dezembro. A partir da data, a companhia tornou-se empresa de capital fechado.
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