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Com investimento em florestas no MS, Suzano busca garantia de madeira para expansão futura

No apagar das luzes de 2023, a Suzano – maior companhia de produção de celulose de fibra curta de eucalipto do mundo – fechou uma aquisição estratégica de terras em Mato Grosso do Sul, estado em que a companhia da família Feffer está finalizando seu maior empreendimento, o Projeto Cerrado, de R$ 22,2 bilhões. A empresa adquiriu de fundos específicos 70 mil hectares de terras na região Centro Leste, que abriga suas duas unidades industriais: uma em Três Lagoas e a outra em Ribas do Rio Pardo, sendo a primeira em plena operação e a segunda com 80% das obras já realizadas.

“A aquisição tem foco mais voltado para o futuro, pois no momento já temos uma base de suprimento no estado que dá conforto para nossas operações”, disse Marcelo Bacci, Diretor Executivo de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico da Suzano, ao IM Business. “O balanço de madeira da empresa em MS, hoje, está praticamente equacionado”, acrescenta o executivo.
O negócio, de R$ 1,83 bilhão, envolveu a compra integral da Timber VII SPE e da Timber XX SPE, ambas sob o guarda-chuva do BTG Pactual Timberland Investiment Group. Da área adquirida, 50 mil hectares estão aptos para plantios (são regiões de pastagens degradadas), com uma parcela já com eucaliptos de diferentes idades plantados. Os demais 20 mil hectares são de preservação do bioma existente e têm de ser conservadas pela empresa. A operação financeira deve ser concluída, com ajustes, em março. 

Base florestal é o coração de uma indústria de celulose e papel, o que garante sustentação futura ao negócio. Segundo Bacci, esse movimento da Suzano vai em duas frentes: primeiro, gera uma opção de crescimento no longo prazo e, segundo, aumenta o nível de segurança operacional de geração de madeira. Principalmente, devido à questão climática vista atualmente, que pode influir no rendimento da produção florestal. Para menos, em caso de secas fortes, ou para mais, em épocas de muita chuva.

Marcelo Bacci, Diretor Executivo de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico da Suzano (Divulgação)

O executivo informa que a área adquirida  vai entrar no programa anual de plantio de eucalipto da Suzano, que gira na faixa de 300 mil hectares. Ele abrange renovação de florestas existentes e plantios de áreas novas. O orçamento para 2024, já influindo a aquisição, é de R$ 3,3 bilhões em terras e florestas (20% do capex total da companhia). O eucalipto demanda de seis a sete anos para atingir o ponto de corte e então ser levado à unidade industrial para se obter a celulose.

Em Mato Grosso do Sul, a empresa tem atualmente uma grande área de florestas plantadas – não revela números por unidades estaduais. Com o Projeto Cerrado, a capacidade de produção de celulose da Suzano irá das atuais 3,2 milhões de toneladas por ano (em Três Lagoas) para quase 5,8 milhões de toneladas. A unidade de Ribas do Rio Pardo, a 100 quilômetros da capital Campo Campo, adicionará 2,55 milhões de toneladas/ano, sendo a maior fábrica de celulose de eucalipto do mundo em linha de produção única.

Bacci informa que atualmente dois terços do balanço de oferta de madeira da empresa são próprios. A diferença de fornecimento vem de terceiros que são donos de florestas de eucalipto no raio de atuação de suas fábricas. “Nossa meta é atingir, entre 2029 e 2032, próximo de 90% de base própria. Vamos trazer mais áreas, a exemplo dessa que adquirimos do BTG. É fundamental estar sempre plantado”.

A indústria de celulose no Brasil, como um todo, enfrenta uma competição acirrada por terras com o agronegócio, o que levou ao encarecimento das aquisições. Em Mato Grosso do Sul, de acordo com informações do governo estadual, áreas de plantios de grãos (soja e milho) ocupam mais de 4 milhões de hectares. Florestas plantadas, 1,3 milhão de hectares, com crescente expansão devido a novos projetos previstos de fábricas de celulose no estado. A predominância é de culturas de eucalipto (há apenas pequenas áreas de pinus). De cana de açúcar, eram 832 mil hectares em 2023.

As áreas de pastagens vêm se reduzindo ao longo dos últimos anos com a corrida verificada por terras, pelo agronegócio e indústria papeleira em MS. Em 2023 somavam 17,6 milhões de hectares – menos 4,2 milhões comparado a anos anteriores. Por sua vez, áreas remanescentes, com biomas a serem preservados, registraram aumento, alcançado 10,8 milhões no ano passado.

“Vimos um aumento do preço da terra nos últimos anos, de forma geral, devido a essa demanda nos grãos e cana e não foi diferente no Mato Grosso do Sul”, comenta o diretor da Suzano. Ele informa que em cinco anos a área florestal plantada no país cresceu 10%, porém, o consumo de eucalipto para processamento de celulose e outras aplicações teve aumento de 26%, ocorrendo um descasamento entre oferta e demanda.

Há outro fator importante ligado à recente aquisição: ganho de competitividade relativo ao custo logístico de movimentação da matéria-prima. Isso é medido pelo raio médio, em quilometragem. de transporte da madeira desde a área de colheita até a unidade industrial. “Hoje estamos em 200 quilômetros; queremos reduzir para 150 quilômetros dentro de seis anos, para adiante”, informa.

Bacci destaca que a empresa olha constantemente oportunidades de compra de novas áreas de terras e florestas dentro de sua estratégia de assegurar solidez ao negócio. Ele diz que apesar de preços da commodity em período de baixa, como se verificou no ano passado, essa estratégia de incorporar novos ativos imobiliários e florestais não é freada. “Mesmo o preço de celulose ficando bastante pressionado em 2023, a companhia realizou no ano o maior investimento da sua história”, afirmou.

Além de Mato Grosso do Sul, a Suzano tem unidades operacionais de celulose nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Maranhão, com capacidade instalada atual de fazer 11 milhões de toneladas ao ano. No todo, são 1,67 milhão de hectares de áreas plantadas de eucalipto mais 1,18 milhão de áreas de reservas protegidas. “Toda a nossa madeira vem de plantios; não entra nada de florestas naturais”, destaca o executivo. A empresa tem ainda florestas em estados vizinhos, caso de  Minas Gerais. 

Além da fibra curta de eucalipto (celulose de mercado), que exporta a quase totalidade da produção para diversos mercados, em especial de Ásia (a China é o grande comprador) e Europa, a companhia é fabricante de papéis de escrever e imprimir (revestidos e não revestidos), papel cartão, papel tissue (para fins sanitários) e celulose tipo fluff (usada na fabricação de fraldas, lenços umedecidos e outros itens de proteção higiênica).

No ano passado, a Suzano gerou receita líquida acumulada, até o final do terceiro trimestre, em base acumulada anual, de R$ 43,75 bilhões, com resultado líquido no mesmo período de R$ 17 bilhões. A dívida líquida consolidada era de US$ 11,5 bilhões em 30 de setembro, com alavancagem de 2,7 vezes na relação com o Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) ajustado. O montante é atribuído ao maior ciclo de investimento na história da empresa. 

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