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Trump ou Kamala: Quem pode mudar o curso dos juros nos EUA em 2025?

O Federal Reserve (o banco central dos EUA, Fed) divulga sua próxima decisão sobre as taxas de juros dos Estados Unidos no próximo dia 7, dois dias depois das eleições presidenciais no país. Um corte de 25 ponto percentual era amplamente esperado para novembro, mas o aquecimento da economia pode levar o Fed, inclusive, a pausar os cortes e alongar por mais tempo as reduções de juros.

De toda forma, o resultado da disputa presidencial, em si, não deve influenciar o movimento da próxima reunião do BC americano. Entretanto, a partir de 2025, analistas projetam cenários diferentes na política monetária de acordo com quem mandará no executivo americano. 

“É possível que o primeiro ano do próximo mandato presidencial nos EUA seja marcado por pressões inflacionárias; via expansões fiscais em benefícios sociais, no caso de Kamala Harris, ou pela possibilidade de cortes de impostos e uma postura protecionista mais acirrada com a China, caso Donald Trump seja eleito”, resume Mariana Conegero, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital. 

Thomas Gibertoni, especialista em investimentos da Portofino Multi Familt Office, explica que o juro real mais alto nos Estados Unidos já considera um mandato com política fiscal prejudicial à inflação e que os juros abaixo de 1% viraram passado.

“Se tivéssemos um governo prometendo corte de benefícios sociais e recuo da dívida para perto de 90% do PIB, por exemplo, teríamos que trazer o juro de volta para a casa dos 0,5%, mas hoje juro real (que desconta a inflação) de 1,3% está na pauta pela preocupação fiscal. ”

Republicanos e juros altos

Ou seja, o mercado já espera pressão inflacionária em qualquer cenário, mas a principal diferença está na intensidade.

“O cenário Trump oferece mais riscos para as estimativas atuais dos juros”, segundo Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital.

Para ela, os dois cortes de 0,25 p.p. projetados para novembro e dezembro devem acontecer, mas um governo republicano aumenta as chances de uma política monetária mais restritiva ao longo de 2025. 

Uma das principais promessas de Trump na economia é retomar e até expandir sua política protecionista, que não atingiria apenas produtos chineses. No último domingo, ele disse que aplicará tarifas de até 200% sobre veículos importados do México.

Além disso, a expatriação de imigrantes tem impacto sobre oferta de trabalho, deixando o mercado mais apertado. Isso, potencialmente, geraria um aumento salarial, que pode elevar a inflação de serviços.

“A expectativa de elevação da tarifa de importação de produtos da China, é a mais emblemática, mas Trump vem falando de outros países. Isso, potencialmente, pode gerar impacto inflacionário.”

Outro tema central de sua campanha é o que chama de “a maior deportação em massa da história dos Estados Unidos”, um movimento que pode ter forte impacto sobre o mercado de trabalho, explica Damico.

Casa Branca e congresso

A economista-chefe da Armor ainda destaca que a maioria das ações com potencial inflacionário prometidas por Trump não precisam do aval do Congresso. Portanto, há expectativa de mais inflação em um governo republicano que terá facilidade em implementar seus projetos. 

Por outro lado, Harris precisaria enfrentar um Senado com provável maioria republicana para aprovar programas sociais que farão o governo gastar mais. Por isto, “o cenário Kamala não seria tão inflacionário e, talvez, o Fed consiga seguir o plano de voo”, de pelo menos quatro cortes consecutivos de 25 ponto percentual. 

Além de eleger um novo presidente, os americanos vão votar para renovar 34 dos 100 assentos do Senado e, atualmente, 23 ocupantes dessas vagas são democratas ou independentes alinhados com os democratas, com pelo menos 11 disputas consideradas de alto risco para o partido de Harris.

Por isto, as projeções apontam para uma maioria republicana no Senado após as eleições de novembro. 

Apesar de ser uma instituição independente do governo americano, o Federal Reserve será influenciado pelas expectativas econômicas, “que podem mudar com base nas decisões do novo governo”, conclui Conegero, da The Hill Capital.

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