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Quem vai ganhar a guerra tecnológica entre os Estados Unidos e a China? 

Instagram contra TikTok, OpenAI contra DeepSeek, BYD contra Tesla: a rivalidade entre empresas de tecnologia dos Estados Unidos e China não é coincidência ou apenas mais uma competição normal entre companhias do mesmo setor. Os embates fazem parte de um contexto importante que deve definir o futuro da economia global: a guerra tecnológica entre americanos e chineses.

Há alguns anos, as duas potências globais correm para desenvolver os recursos mais avançados e, assim, manter ou tomar a liderança da economia global. Mas quem vai ganhar essa guerra? E quais os impactos da disputa na economia global?

A disputa é chamada por alguns de Guerra Fria 2.0 por conta das semelhanças com a disputa entre os EUA e a União Soviética na segunda metade do século passado: hostilidade sem confronto armado, modelos econômicos diferentes e, claro, tecnologia (bélica ou não) como tema central.

Assim como a tensão que acabou com a dissolução da União Soviética em 1991, a disputa protagonizada por Donald Trump e Xi Jinping tem o poder de mudar os rumos da economia global.

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Para Lívio Ribeiro, pesquisador associado do FGV/Ibre e sócio da BRCG Consultoria, “estamos em um processo de definição de como os atores geopolíticos vão se comportar nos próximos 25 anos”. 

“É, no fim das contas, uma corrida pela soberania mundial”, define Luis Otávio Leal, economista-chefe e sócio da G5 Partners. “A tecnologia atual, com a inteligência artificial, pode ter várias aplicações, inclusive militares, que certamente darão vantagem a quem estiver na liderança do desenvolvimento na disputa por poder”, completa. 

Ao falar sobre a dimensão da disputa atual, Ribeiro argumenta que “é a primeira vez que um país consegue brigar de igual para igual com os Estados Unidos”, já que “o Japão já foi ameaça econômica, mas era aliado militar e a União Soviética tinha a bomba atômica, mas nunca foi uma ameaça econômica”. 

Ocidente x Oriente

Os especialistas explicam que os dois lados têm estratégias diferentes, cada um com vantagens e desvantagens competitivas. Um dos pontos fortes da China, segundo Ribeiro, são os planos estratégicos bem definidos e a capacidade que o atual regime tem de seguir um roteiro. Até 2049, ano do centenário da República Popular da China, Xi Jinping quer que a nação “lidere o mundo em termos de força nacional composta e influência”. 

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Por outro lado, a organização política da China cria no país “um compromisso maior com o erro” e os ajustes estratégicos podem acontecer apenas após algum deslize, já que não há espaço para questionamentos sobre os planos do governo, alerta Ribeiro. 

No desenvolvimento tecnológico, a quantidade joga a favor da China. Um estudo de março do ano passado feito pelo think tank MacroPolo mostrou que quase metade dos principais pesquisadores de inteligência artificial do mundo são formados no país asiático, enquanto os Estados Unidos contribuem com cerca de 18% da elite acadêmica.

“Com mais gente pensando sobre o mesmo tema, as chances de termos algo disruptivo vindo da China aumentam”, diz Leal. Já os EUA, “têm mais dinheiro e os semicondutores mais modernos”, pondera. Mas os americanos podem ficar para trás na batalha por atração de talentos com a política anti-imigração de Trump: “por mais que as diretrizes foquem em trabalhadores menos qualificados, isto também gera insegurança nos mais qualificados”. 

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Mas, do lado americano, há “muito mais capacidade de mercado, com incentivos e investimentos” que permitem o desenvolvimento rápido de novas tecnologias, lembra Lívio Ribeiro. Somente em 2025, Amazon, Meta, Alphabet (dona do Google) e Microsoft vão investir, juntas, R$ 1,84 trilhão em inteligência artificial. 

Momento Sputnik?

Um dos episódios recentes mais emblemáticos da guerra tecnológica foi o lançamento de um assistente de inteligência artificial desenvolvido por uma empresa chinesa que abalou as gigantes de tecnologia dos Estados Unidos. 

Para Leal, da G5, o episódio da DeepSeek pode ser comparado com o lançamento do Sputnik, satélite soviético que pegou os americanos de surpresa. No fim das contas, a IA da DeepSeek pode “fazer com que os EUA não fiquem parados e convencidos de que encontraram o modelo de negócio ideal para a IA

Mas, ao contrário do que aconteceu no século passado, quando a ida do homem à Lua foi um marco significativo na Guerra Fria e uma resposta poderosa dos EUA ao Sputnik, os episódios da guerra tecnológica atual podem não deixar claro quem está à frente. Isso porque China e EUA rivalizam em várias frentes – inteligência artificial, semicondutores, smartphones, carros elétricos.

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“Ambos estão caminhando, quem está mais perto da autossuficiência em semicondutores é a China, mas os Estados Unidos são mais capazes de pressionar outros países, não dá para dizer quem está na frente”, diz Ribeiro, do FGV/Ibre. 

A esta altura, também não dá para dizer como a guerra vai terminar, mas Leal não projeta um fim sem “abalos estruturais”. Ele diz que “ao longo da história, sempre foi necessário algum tipo de ruptura para que um país deixasse de ser dominante”. Essa ruptura pode ser tecnológica, mas “não será algo natural”. 

Apesar de classificar a China como a melhor desafiante à dominância dos EUA, o economista-chefe da G5 acha que o país asiático não terá força suficiente para assumir o posto de maior economia do mundo por enfrentar “problemas econômicos sérios que, em algum momento, refletirão na capacidade de competir com os americanos”. 

Ele lembra que a retaliação chinesa às tarifas americanas no primeiro mandato de Trump foi imediata, mas hoje, com o crescimento perdendo fôlego, o contra-ataque é limitado. Portanto, a China não ameaça a soberania dos Estados Unidos, pelo menos no curto prazo, conclui Leal. 

Enquanto as duas potencias brigam e redefinem os rumos da economia global, “é preciso entender que não temos controle na direção dos novos ventos e haverá mudanças bruscas na avaliação do cenário”, diz Lívio Ribeiro. 

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