
Olhado com preocupação por alguns analistas, o possível shutdown (necessidade de congelar as despesas) nos Estados Unidos traz oportunidades para o investidor interessado em obter renda em dólar, em meio aos maiores juros em cerca de 15 anos.
As incertezas sobre uma nova paralisação do governo americano estão pressionando para cima os rendimentos dos títulos públicos do país (treasuries), em movimento que tende a se intensificar à medida que se aproxima a data limite para aprovação do novo orçamento, no próximo domingo (1º).
Isso porque, com a piora da situação fiscal do país, investidores passam a exigir maior retorno para financiar a dívida americana.
“Os investidores certamente verão isso como um evento de risco de mercado que cria volatilidade de curto prazo ”, disse Jean Boivin, diretor do BlackRock Investment Institute, à Bloomberg.
Os retornos dos títulos americanos de 10 anos fecharam mais uma vez em alta na terça-feira (26), a 4,55%, leve ganho de 0,01 ponto percentual, mas o suficiente para manter o rendimento no patamar mais elevado desde 2007.
Para a gestora americana Lord Abbett, especializada em renda fixa, ainda é possível aproveitar momento.
A obtenção de spreads de crédito de maior qualidade em ativos de duração mais curta, em conjunto com exposições modestas de duração intermediária, continua a ser a nossa forma preferida de aumentar os retornos.
Lord Abbett
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A estratégia, no entanto, leva em conta que o governo Biden encontrará uma solução rápida para o shutdown. Se a crise perdurar, os efeitos sobre a economia tendem a ser maiores, mas os retornos também podem ficar mais polpudos.
“O risco do lado fiscal pode preocupar os investidores e, com o tempo, haverá mais prêmios de prazo”, disse Boivin, da BlackRock, referindo-se ao rendimtento extra que os investidores normalmente exigem para deter títulos de longo prazo. Mas alerta: “se você está preocupado com as perspectivas fiscais dos EUA, não deve correr para treasuries”.
Entre as opções disponíveis ao investidor — inclusive o brasileiro, por meio de conta internacional — estão as T-Notes, que têm pagamento de juros semestral, e as TIPs, atreladas à inflação.
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Paralisação prolongada
A aceleração das taxas de retorno dos treasuries se dá enquanto o mercado digere a chance de o governo dos EUA ter suspensos em poucos dias os gastos com prestação de serviços, incluindo funcionamento de museus. Caso a paralisação se estenda, como aconteceu em 2019, até a divulgação de dados econômicos, como os de emprego e inflação, pode ser prejudicada.
Guilherme Morais, analista da VG Research, avalia que um cenário como esse seria preocupante porque essas são informações que subsidiam os agentes econômicos em relação aos passos que o Fed deve tomar. Sem esses dados, diz, a reação pode ser negativa, em especial se a paralisação durar até próximo da reunião do Fed marcada para 1º de novembro.
Pode haver um impacto de curto prazo na curva de juros pela falta de dados econômicos e a paralisação de importantes setores pode afetar no consumo e no PIB americano. No curto prazo, o mercado pode buscar por mais segurança, ou seja, aumentando a demanda por títulos de menor prazo.
Guilherme Morais, analista da VG Research
O receio de engessamento do governo também ajuda a engrossar o caldo de expectativas negativas para a economia dos EUA, que já inspira preocupação para o quarto trimestre por conta da greve do setor automotivo e da retomada da cobrança dos financiamentos estudantis, que retira recursos do consumo.
Além da renda fixa
Andrew Reider, gestor da WHG (Wealth High Governance), destaca que a curva longa de juros dos EUA já deveria ter dado sinais de fechamento (queda), o que não aconteceu.
Para ele, a insistência dos juros em patamares altos mostra que a incerteza ainda reina. Ainda assim, vê uma probabilidade maior de um “pouso suave” para a economia americana, gerando oportunidades em renda variável fora dos papéis de tecnologia.
“Quando tivermos a viabilidade de que os juros vão cair, os investidores vão se animar. Vemos papéis com múltiplos atrativos (baratos) entre as empresas de média capitalização”, conta.
Por outro lado, o investidor que busca aumentar o risco da carteira deve ficar atento a alguns setores que podem ser afetados no curto prazo por uma possível paralisação nas despesas americanas.
O setor mais sensível é o ligado à defesa, que pode ter gastos suspensos em caso de shutdown mais prolongado, com possível não renovação de contratos com fornecedores. Algumas das empresas expostas, segundo Morais, da VG, são Boeing (BA), Lockheed Martin (LMT) e RTX (RTX).
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