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Por que “novo normal” nos juros dos EUA afeta o bolso do brasileiro – e o que fazer para não perder dinheiro

Bandeira dos EUA

A maior economia do mundo atravessa um momento conturbado. A inflação dos Estados Unidos parece estar, aos poucos, sendo controlada, mas o país tem uma série de desafios que preocupam o mercado, que já não enxerga juros caindo ao nível pré-pandemia, mesmo com a questão inflacionária resolvida.

Para analistas, é hora de se adaptar a um novo patamar mais alto de juros neutros nos Estados Unidos. Alexandre Yamamoto, analista da Levante, diz que o movimento “vai demorar um pouco para se definir”, mas afirma: há uma mudança estrutural dos juros norte-americanos em curso.

O juro neutro, ou juro de equilíbrio, é aquele que não desacelera nem estimula a economia. Hoje, com a taxa entre 5,25% e 5,5%, os EUA têm juros restritivos, que travam a economia para tentar controlar a inflação.

Atualmente, os dirigentes do Federal Reserve projetam juro de equilíbrio em 2,5%. Antes da pandemia de Covid-19, chegou a ser de 0%.

Como isso me afeta?

Os Estados Unidos são a referência para todo o mundo na economia. Se há um novo normal em suas taxas de juros, há, também, um novo normal em cada país. Com as taxas nos EUA mais altas, o Brasil não consegue abaixar muito os juros locais. Como o mercado brasileiro é considerado mais arriscado do que os EUA para investidores globais, é preciso pagar mais para gerar atratividade.

“É difícil para o restante do mundo competir com juros altos nos Estados Unidos. Quando as taxas do Treasury de 10 anos – referência global no mercado de renda fixa – sobe, há procura maior”, explica Lucas Schwarz analista da VG Research.

Considerando o cenário conturbado lá fora, Schwarz diz que os investidores devem pensar em formas de se proteger. “Já dá para pensar em alocação em renda fixa nos EUA”, diz o especialista.

Não é difícil encontrar uma corretora brasileira que ofereça investimentos internacionais e os Treasuries são os instrumentos mais básicos da renda fixa americana. É preciso consultar o valor mínimo para investimento em títulos dos EUA na sua corretora.

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Apesar do momento mais atrativo, no entanto, especialistas recomendam atenção com a marcação a mercado:

  • se os juros subirem após a compra e o investidor precisar vender um título antes do vencimento, provavelmente perderá dinheiro;
  • se as taxas caírem e o investidor já tiver em mãos um título com rentabilidade maior que a oferecida pelo mercado naquele momento, vender o ativo vai gerar lucro.

Especialistas recomendam que o investidor não dependa da marcação a mercado e compre títulos que pode carregar até o vencimento, aproveitando os juros altos que a renda fixa americana oferece no momento.

Rafael Bentes, head de Investimentos Internacionais da RJ+ Investimentos, lembra que os brasileiros têm várias opções de investimento lá fora: “é preciso buscar conhecimento para ter proteção”, alerta.

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As lições de casa dos EUA

Investidores ainda precisam ter paciência. A definição de um novo patamar de juros neutros pode demorar por conta de uma série de problemas domésticos que os EUA precisam resolver.

Um deles é a dívida do país, que ultrapassou os US$ 33 trilhões pela primeira vez na história em setembro e é o centro de um amplo debate político, que já vive momento turbulento com as frequentes ameaças de shutdown (congelamento das despesas do governo por falta de verba), e a destituição pela primeira vez na história do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA.

Além disso, haverá eleição presidencial no próximo ano, o que acende um alerta para os gastos do governo. “Os democratas querem preservar o emprego, um dos maiores problemas do Fed atualmente”, diz Bentes, da RJ+ Investimentos, explicando que certos sacrifícios econômicos são comuns em anos eleitorais.

O tema do último Simpósio Anual de Jackson Hole foi “Mudanças Estruturais na Economia Global”. Segundo um estudo apresentado pelos economistas Serkan Arslanalp e Barry Eichengreen no evento, o alto endividamento dos EUA devem seguir pressionando as taxas de juros e a reestruturação de dívidas pode ser necessário para países desenvolvidos.

Diante das difíceis lições de casa que os EUA precisam resolver, a Fitch, agência de classificação de risco, rebaixou o rating de emissor de inadimplência a longo prazo e moeda estrangeira (IDR, na sigla em inglês) do país de AAA para AA+, com perspectiva estável.

Segundo a empresa, o rebaixamento reflete a deterioração fiscal esperada para os próximos três anos, assim como a crescente dívida do governo geral.

Todos esses fatores fazem com que o mercado exija um prêmio de risco maior dos EUA. Afinal, emprestar dinheiro para um país endividado e com problemas políticos parece mais arriscado do que conceder crédito aos Estados Unidos de 2019.

“Antes da pandemia, juros neutros eram em 0%. Agora, o que me preocupa sobre possivelmente ainda não estarmos em nível suficientemente restritivo são os gastos com consumo robustos, PIB continuamente surpreendendo para cima e ganho de força em setores tradicionalmente sensitivos aos juros, como imobiliário e automotivo”, disse o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, em entrevista à CNBC no fim de setembro.

(Com Estadão Conteúdo)

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