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Produção agrícola dribla El Niño e novos recordes deverão ser batidos

Responsável pelas fortes chuvas e ciclones extratropicais que castigaram o Rio Grande do Sul entre junho e setembro, o El Niño até agora poupou as principais culturas agrícolas brasileiras. Os produtores estão preocupados, mas a expectativa para os próximos meses é que os reflexos negativos do fenômeno sobre as plantações sejam pontuais e se concentrem em áreas do Nordeste e do extremo Sul, sem afetar a tendência de aumento das colheitas nacionais de grãos ou de culturas perenes como cana e café.

Estragos produzidos por ciclone extratropical no Rio Grande do Sul (Foto: Defesa Civil/RS)

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico Equatorial. Costuma ocorrer a cada dois a sete anos, dura entre nove e 12 meses e tem influência sobre o clima no mundo todo, em maior ou menor intensidade. No Brasil, provoca aumento de temperaturas e chuvas na região Sul, no sul de São Paulo e em Mato Grosso do Sul, e redução das precipitações no Norte e no Nordeste. No Centro-Oeste, reduz a chance de o período úmido atrasar, o que normalmente favorece a produção de grãos.

Na safra 2015/16, última safra sob um El Niño mais intenso, a produtividade em polos de soja e milho do Matopiba diminuiu, mas no Sul as chuvas mais volumosas foram benéficas –  exceto em algumas áreas do Rio Grande do Sul. O cenário agora é semelhante. “O desafio constante do país é elevar a produtividade agrícola. Planejamento e investimentos em tecnologia ajudam a mitigar eventuais problemas causados por fenômenos como El Niño e La Niña”, disse Willians Bini, head de comunicação da Climatempo, ao IM Business.

Samuel Isaak, analista da XP Investimentos, observou que não é possível, por exemplo, cravar que a irregularidade das chuvas na semana passada em Mato Grosso, que lidera a produção brasileira de grãos, é obra do El Niño. E lembrou que as previsões indicam precipitações favoráveis ao plantio de grãos no Centro-Oeste para as próximas semanas. “Embora as chuvas intensas já tenham gerado perda de qualidade em lavouras de trigo do Rio Grande do Sul, o El Niño poderá ser positivo para a safra de verão de grãos na região Sul, que sofreu nos últimos anos com a seca provocada pela La Niña”, afirmou.

Grãos

Em relatório divulgado na segunda-feira, a StoneX ponderou que o clima poderá provocar surpresas, especialmente no Norte e no Nordeste, mas ajustou para cima sua projeção para a produção brasileira de soja nesta safra 2023/24, cuja semeadura ganhará força nas próximas semanas. Segundo a consultoria, o volume deverá alcançar o recorde de 164,1 milhões de toneladas, ante 157,7 milhões em 2022/23.

Para a primeira safra de milho, a StoneX passou a calcular a colheita em 27,5 milhões de toneladas, abaixo do que previa em setembro (28,2 milhões) e também da produção do ciclo 2022/23 (28,6 milhões). Pesa para essa queda o fato de o milho ser mais suscetível a intempéries que a soja, o que em uma temporada com presença de El Niño faz diferença para as decisões de plantio. Mas os melhores preços da oleaginosa também estimulam alguma migração de milho para soja.

Cana

No caso da cana-de-açúcar, as chuvas das últimas semanas em São Paulo chegaram a atrapalhar um pouco a moagem, mas nada capaz de ameaçar a superprodução em curso. Segundo a Unica, entidade que representa as usinas do Centro-Sul, o volume processado na região chegou a 406,6 milhões de toneladas do início desta safra 2023/24, em abril, até o fim de agosto, 10,9% mais que no mesmo intervalo do ciclo anterior. O nível médio de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) ficou apenas 0,57% menor na comparação.

Se as chuvas se tornarem mais intensas e regulares nas próximas semanas, uma possibilidade que não pode ser descartada,a moagem poderá atrasar e uma parte da colheita ficará para o ano que vem – o que já deverá acontecer dado o grande volume previsto. Consultorias como a Datagro estimam que a moagem vai superar 600 milhões de toneladas em toda a safra 2023/24. Para a StoneX, o volume poderá chegar a cerca de 623 milhões de toneladas, um novo recorde.

Café

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) credita ao clima mais favorável a tendência de aumento da produção de café no país na atual temporada, mesmo diante da bienalidade negativa, quando a produtividade é naturalmente menor. A estatal projeta a colheita total em 54,4 milhões de sacas de 60 quilos, 6,8% mais que em 2022, quando o ciclo era de bienalidade positiva, mas lavouras de diversas regiões foram penalizadas por seca e calor. Ante a safra de 2021, de bienalidade negativa, o crescimento agora chega a 14%.

Laranja

Para a laranja, finalmente, as perspectivas de colheita farta também foram reforçadas nas últimas semanas, mesmo com o El Niño no radar. Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), mantido com contribuições de produtores e indústrias de suco, a produção no cinturão que se espalha por São Paulo e Minas Gerais, o maior do mundo, deverá alcançar 309,3 milhões de caixas de 40,8 quilos nesta safra 2023/24, 1,6% menos que em 2022/23. Em relação à média da última década, há leve crescimento de 1%.

No momento, pico da colheita do ciclo atual, a atenção da cadeia produtiva está voltada ao clima em outubro e novembro. Mas por causa do ciclo 2024/25. Se houver um “veranico” influenciado pelo El Niño, o pegamento da florada nos pomares poderá ser prejudicado, o que terá efeitos negativos sobre a produção da próxima temporada.

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