A edtech brasileira Letrus divulgou nesta quinta-feira (7) a arrecadação de R$ 36 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelas gestoras Crescera Capital e Owl Ventures. O foco da empresa, que diz ter três contratos adiantados com governos estaduais a serem concretizados em 2024, é desenvolver a área de produtos e reestruturar o seu setor de marketing.
Essa rodada foi a segunda da empresa, que a enxerga como “uma intermediária entre as séries A e B”. O curioso é que dois agentes filantrópicos, a Fundação Lemann e a VélezReyez+, criada pelo fundador e CEO do Nubank, David Vélez, fizeram seus primeiros investimentos diretos em um negócio privado nessa captação da Letrus. No total, a edtech já levantou R$ 96 milhões.
A empresa, que desenvolve um programa à base de inteligência artificial para auxiliar o letramento de alunos dos anos finais do ensino fundamental até o ensino médio, vai dividir os recursos captados em três terços: um para produtos, outro para marketing e o último para os demais setores.
Na linha de produtos, a Letrus pretende expandir as funcionalidades de IA generativa, com interatividade entre alunos e chatbots, aumentar o tempo de uso do programa por escolas e professores e ampliar a área dedicada à leitura da plataforma.
Mas a grande mudança deve ocorrer na área de marketing. “Sempre tivemos uma atuação muito tímida. Fomos muito low profile”, diz o co-fundador da empresa, Thiago Rached, co-fundador da Letrus. Ele explica que a marca sempre teve uma abordagem comercial muito baseada na abordagem às escolas e redes, sem captar clientes no topo do funil. “Não tinha um time de gestores de marketing. A gente tinha uma pessoa e uma coordenação que fazia tudo.” Agora, a empresa está contratando uma direção de marketing e duas gerentes para desenvolverem o olhar estratégico da companhia.
A divulgação do aporte é feita na mesma semana em que o Pisa, avaliação internacional de educação básica, registrou uma queda de 3 pontos nas competências de leitura pelos brasileiros, atingindo a média de 410.
Os desafios do letramento e da alfabetização na rede pública no Brasil, em curto prazo, devem ser o principal ponto de crescimento para a Letrus. Hoje, o único contrato da empresa com uma secretaria de educação é no Espírito Santo e representa 20% do faturamento da companhia. A expectativa é que com os três novos contratos em fase final esperados para o ano que vem, o setor público represente 60% dos ganhos da startup.
Mas aumentar o número de estados como clientes tem sido um dos grandes desafios da Letrus. Segundo Rached, a ausência de concorrentes com um produto igual ao da empresa impede que governos consigam fazer licitações, o que leva ao modelo de contratação direta como alternativa. Esse meio de contrato público, no entanto, pode gerar passivos políticos para governantes porque órgãos de controle são capazes de impugnar o processo. “Por mais que esteja tudo perfeito, o gestor e a própria empresa podem ser entendidas como antiéticas ou corruptas”, explica o executivo.
A expectativa da empresa é, no longo prazo, equacionar metade da arrecadação vinda da rede pública e a outra parte da privada. Entre este ano e o próximo, a companhia espera aumentar a sua presença, hoje em 680 escolas, em quatro vezes.
Nas palavras de Rached, a diluição da empresa nessa rodada de investimentos foi em um nível “convencional de mercado” e não está nos planos dos fundadores perderem o controle da operação. Ainda assim, eles não descartam ouvir propostas de grandes players globais de tecnologia que eventualmente se interessem pelo negócio.
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