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Pact leva tecnologia de dados para o mundo da advocacia

O sequestro de dados é um dos crimes cibernéticas que mais cresceram nos últimos meses

Empresas e escritórios de advocacia muitas vezes se veem diante de divergências entre seus dados, em especial quando a possíveis passivos judiciais. É de olho nesse problema que a legaltech Pact aproveita a digitalização tardia do universo do direito para promover uma solução de inteligência de dados capaz de registrar e criar análises sobre processos trabalhistas e tributários com melhor estruturação.

Em entrevista ao IM Business, Lucas Penas, CEO da Pact, diz que enquanto outras indústrias se tornavam digitais nos anos 2010, a advocacia tinha uma barreira na inovação causada pela regulamentação do setor, que impõe bloqueios nos modelos de negócio dos escritórios. “Como eu, não-advogado, ia revolucionar um escritório de advocacia, se eu não posso ser sócio de um, não posso fazer parte de um?”, diz Lucas Pena, CEO da Pact. Formado em engenharia ambiental, ele então procurou uma solução de modelo para entrar nesse mercado: tornar-se sócio de um escritório e inovar de dentro para fora.

O estímulo do CEO para entrar no mercado da advocacia veio da sua experiência em uma boutique de M&As, quando teve o primeiro contato com advogados. Ali, viu que empresas e advogados, muitas vezes, mantinham registros diferentes de passivos judiciais em bancos de dados com difícil visualização.

Não era incomum, por exemplo, que o cálculo da dívida com processos de uma empresa fosse diferente daquele dos escritórios de advocacia. Essa distorção, em último caso, acarreta em problemas de visualização para as lideranças, erros de estratégia, falta de provisionamento e até não pagamento. “Cada vez que eu recebo processos de clientes, na base que ele me manda como existente, eu encontro entre 10% a 30% de processos já inexistentes”, explica Pena.

De olho nessa lacuna, a empresa comprou há 10 meses outra legaltech, a Legal Insights, para criar uma plataforma de leitura de dados com base nos bancos internos e bases públicas da justiça brasileira. Essa mistura resulta em uma interface enriquecida que consegue mostrar à empresas indicadores para a atuação no campo jurídico. Os dados não substituem a assessoria de escritórios de advocacia, mas serve para melhorar a tomada de estratégia sobre provisões e confiabilidade de dados.

O produto vem em uma onda de maior preocupação das companhias com a confiabilidade dos dados relacionados aos seus passivos, em especial após o caso Americanas. Há um ano, a Pact possuía 20 mil processos sobre gestão em seu regime de dados, número que hoje chega em 180 mil.

O período de finalização de um processo trabalhista normalmente fica próximo a cinco anos e, de um tributário, dez anos. Por esse motivo, muitas empresas jovens e bem-sucedidas que consideram um IPO estão hoje em face da finalização de diversos de seus processos. “Elas agora começam a se preocupar. Assim como empresas históricas, em termos de legado: a gente atende a Raízen, a Magazine Luiza, empresas que existem há muitos anos, mas que também foram pressionadas a dar uma transparência pragmática para o assunto jurídico”, diz Pena.

De onde vieram os dados

A Pact nasceu como uma solução para negociação de passivos jurídicos de empresas, em especial os trabalhistas. A companhia levanta as dívidas de seus clientes com litígios e tenta chegar a acordos com aqueles mais próximos do vencimento — em que a atuação do escritório para reverter o caso se torna mais difícil. Com isso, a empresa consegue gerar uma economia de, em média, 35% para os contratantes. Foi justamente pela necessidade de agregar e ler dados dos processos para negociações que surgiu o produto baseado na plataforma de dados.

Anualmente, a companhia negocia cerca de R$ 600 milhões em processos — isso não representa o total de processos das companhias, mas o valor que a startup avalia, por meio de inteligência de dados, ser possível conseguir um desconto. As negociações acabam abrindo espaço para investimento das empresas, que podem reduzir o valor provisionado para o pagamento das obrigações judiciais.

Fundada em 2016, a Pact tem um faturamento previsto de mais de R$ 10 milhões para este ano, após ter arrecadado R$ 7,5 milhões em 2022. A compra da Legal Insights alavancou o crescimento da companhia, que já bateu a expectativa de 25%. A companhia trouxe escala para a empresa ao abrir portas também nos escritórios de advocacia, que hoje utilizam a plataforma de dados desenvolvida pela Pact.

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