Montar uma carteira de investimento no exterior dá trabalho: é preciso analisar o cenário macroeconômico, ler relatórios de casas análises para encontrar as melhores oportunidades e principalmente ficar atento aos juros dos Estados Unidos. Afinal, qualquer mudança na taxa básica da maior economia do mundo afeta os ativos financeiros.
No último mês, os dados de inflação ao consumidor dos EUA e a ata reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central do país) jogaram um balde de água fria nos investidores que apostavam em cortes de juros neste semestre. Segundo a ferramenta CME FedWatch Tool, a expectativa do mercado agora é de quedas somente a partir de junho.
Diante desse cenário repleto de dúvidas, como montar uma carteira de investimento no exterior com US$ 10 mil (cerca de R$ 50 mil) para navegar com segurança e tranquilidade? Veja as opiniões de especialistas para investidores com perfis conservador, moderado e arrojado.
Perfil conservador
Eduardo Rahal, analista chefe da Levante Corp, disse que a estratégica recomendada para o perfil conservador sugere 70 a 80% em renda fixa, complementada por 20 a 30% em renda variável. “A ênfase recai sobre a segurança e a preservação do capital, com uma tolerância ao risco mais baixa”.
Para o especialista, a parcela da renda fixa deve incluir principalmente Treasuries – equivalente aos papéis do Tesouro Direto brasileiro – de curta duração; money market funds (MMFs), um tipo de fundo mútuo de investimento que aplica em instrumentos de dívida de curto prazo e de alta qualidade; e bonds de alta qualidade.
Na porcentagem destinada à renda variável, falou, a seleção deve priorizar ativos com menor volatilidade, como ações de empresas consolidadas com histórico de distribuição de dividendos; REITs – versão americana dos fundos de investimento imobiliários no Brasil; e ETFs (fundos de índice) para uma exposição diversificada ao mercado de ações.
Valor | Alocação | Ativos |
US$ 7 mil a 8 mil | Renda fixa | Treasuries de curto prazo, MMFs e bonds high grade (AAA) |
US$ 2 mil a 3 mil | Renda variável | Ações de dividendos, REITs e ETFs |
Perfil moderado
Para perfis moderados, a sugestão de Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, é alocar 65% da carteira em títulos de renda fixa, como Treasuries com vencimento em seis meses a um ano, corporate bonds longos com resgate a partir de 2023 e bonds com vencimento médio de quatro anos.
No caso da renda variável, falou Boragini, a alocação é de 35%. Segundo ele, vale optar por mutual funds (fundos mútuos) como o PIMCO Fixed Income Fund 5, o JPM US Growth Fund 10 e o Oaktree Credit Fund 5. Outra pedida são ETFs que repliquem o índice S&P 500 e visem empresas pagadoras de dividendos.
Valor | Alocação | Ativos |
US$ 6,5 mil | Renda fixa | Treasuries de curto prazo, bonds de médio e longo prazos |
US$ 3,5 mil | Renda variável | Mutual funds (PIMCO Fixed Income Fund 5, JPM US Growth Fund 10 e o Oaktree Credit Fund 5), ETFs de S&P 500 |
Perfil arrojado
Para perfis mais arrojados, a relação entre renda fixa e renda variável se inverte, segundo os especialistas consultados. Leonardo Cappa, economista chefe da Traad Investimento, por exemplo, sugere um portfólio composto por 70% em ações (priorizando ações dos EUA) e fundos globais de outros países e 30% em ativos com rentabilidade definida. “Dentro desse percentual de bolsa americana, a sugestão é alocar a maior parte no S&P 100 Index [subconjunto do S&P 500] e uma pequena parcela no Russell 2000”.
No caso da renda fixa, segundo Cappa, 8% do total iriam para títulos high yield (maior retorno e risco). O restante (22%), falou, poderia ser alocado parte em bonds globais com foco em EUA e parte via gestores com estratégias diversificadas como mercado imobiliário ou operando risco de crédito.
Valor | Alocação | Ativos |
US$ 7 mil | Renda fixa | S&P 500, Russell 2000 e fundos globais |
US$ 3 mil | Renda variável | Bonds, sendo US$ 800 em títulos high yield |
Como investir?
Quem deseja investir na renda fixa americana a partir do Brasil pode fazer isso de duas formas. Uma delas é abrindo uma conta internacional junto a uma corretora que atua nos Estados Unidos. A dica na hora de escolher uma é se atentar para as taxas mais atrativas e as melhores prateleiras de produtos para investir.
A conta internacional é uma alternativa para quem deseja aplicar em outras geografias. No caso dos EUA, além da renda fixa, o investidor pode ter acesso ao maior mercado de renda variável do mundo, pois as bolsas do país – NYSE e Nasdaq – possuem juntas mais de 6.500 empresas listadas.
A tributação depende do ativo escolhido. No caso de ETFs, que dominam as recomendações de especialistas, a regra de tributação via corretora nacional ou internacional não muda: a alíquota sobre os rendimentos ou sobre os ganhos na alienação é de 15%, e dividendos são taxados em 30% na fonte, devendo ser informados na declaração de imposto de renda para evitar a bitributação.
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