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Em tempos de IPCA+6%, mais ricos dobram fatia do bolo aplicada em títulos de inflação

bolo torta

O estresse visto na curva de juros futura nos últimos meses impulsionou os retornos das aplicações atreladas à inflação – e elas chamaram a atenção do público mais endinheirado. O reflexo está no crescimento da participação de ativos atrelados ao IPCA nas carteiras de renda fixa dos investidores de alta gama, que praticamente dobrou entre janeiro e junho deste ano.

É o que mostra um levantamento exclusivo da Smartbrain, a pedido do InfoMoney, que analisou portfólios que vão desde R$ 50 mil até os que têm mais R$ 50 milhões aplicados.

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O movimento ocorreu em relação inversa às alocações em ativos indexados ao CDI, que correspondiam a 80% dos portfólios em janeiro e foram a 55% em junho. Já os ativos atrelados à inflação cresceram de 16% para 31% na mesma janela. Investidores de alto padrão também aplicaram mais em ativos prefixados: de apenas 3% em janeiro, para uma participação de 14% nos portfólios.

Confira agora as principais mudanças feitas nas carteiras de renda fixa dos mais ricos entre janeiro e junho:

Percentual alocado em termos de indexador Janeiro/24 Junho/24
CDI 80,35% 55,44%
Inflação 16,33% 30,84%
Prefixado 3,32% 13,71%
Fonte: Smartbrain. Obs.: Os dados levam em conta a quantidade de aplicações realizadas mensalmente

“IPCA+6% é uma taxa de juro real que acaba batendo muitos indexadores e ativos no longo prazo. É um nível atrativo para quem vai carregar o papel”, resume Eric Hatisuka, CIO do Mirabaud.

A casa tem aproveitado os últimos meses para engordar aos poucos posições em Tesouro IPCA+, com destaque para aquelas com vencimento até 2030, ao mesmo tempo em que reduziu alocações em fundos multimercados e em ações. “Achamos que não é a última vez que veremos IPCA+6%. Não tivemos pressa [para alocar]. O número é bom, mas pode piorar. Pode ter mais abertura de juros”, diz o profissional, ao ponderar um possível aumento da volatilidade em decorrência de ruídos locais e do nível atual do câmbio.

Menos CDI e mais prefixado

A redução da participação de investimentos atrelados ao CDI nas carteiras é reflexo de uma estratégia feita por alocadores para aproveitar oportunidades em ativos atrelados à inflação, conta Leandro Ormond, analista da Aware Investments. Apesar disso, o profissional alerta que investimentos indexados ao CDI devem permanecer como a maior parcela dos portfólios mais conservadores, diante de um nível ainda elevado de Selic.

Os dados também mostram o crescimento de alocações em ativos prefixados, o que divide especialistas. Catherine Cruz, CIO da Integrity Wealth Management, avalia que há um risco e retorno interessante nos ativos prefixados mais curtos para quem estiver disposto a acrescentar uma “pimenta” ao portfólio. Já o Mirabaud prefere ficar de fora de prefixados em momentos em que governos tendem a ser mais “gastadores”, como é o caso agora.

Títulos públicos de inflação chamam atenção

Entre as aplicações que mais cresceram na carteira de renda fixa de investidores com mais dinheiro estão alocações em títulos públicos indexados à inflação, que responderam por pouco mais de 7% das posições em renda fixa em junho, contra 1% em janeiro deste ano.

Uma das explicações pode estar no fechamento do nível dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito entrega em relação aos títulos públicos) oferecidos por papéis privados, ou seja, esses ativos deixaram de ter um diferencial mais significativo nos retornos nos últimos meses, lembra Ormond, da Aware.

De olho nas taxas e na proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a Aware está entre as casas que preferem ativos bancários, como Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliárias (LCIs) a ativos de crédito, assim como o Mirabaud, que defende que o “risco Brasil e da economia não estão bem precificados nos prêmios dos títulos de crédito privado hoje”.

Mix de estratégias

Cruz, da Integrity, por outro lado, diz que ver boas oportunidades para o investidor adotar uma combinação de estratégias em crédito privado e papéis públicos, a depender do objetivo com o investimento. Se o foco do cliente for entrar no papel com chance de sair antes para obter ganhos de capital, a alocadora recomenda que o investidor prefira um título público, com horizontes entre 2035 e 2045.

Já se o objetivo for carregar até o vencimento, a profissional diz que os papéis privados podem ser uma opção mais interessante pelo fato de possuírem a isenção de Imposto de Renda, ao contrário do título público. Setores como o de transmissão de energia são os preferidos da casa pela resiliência. “Estamos confortáveis com papéis que pagam IPCA+6,5% e que possuem uma estratégia de pelo menos cinco anos”, diz.

Investimentos preferidos

Ainda que títulos públicos de inflação tenham ganhado espaço nas carteiras dos mais endinheirados ao longo do primeiro semestre, Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) atrelados ao CDI estão no topo da lista de investimentos com maior participação nos portfólios durante os meses de janeiro a junho, com percentuais que variaram entre 30% e 49% durante o período.

Alocações em LCIs e LCAs atreladas ao CDI e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliários (CRIs) apareceram na sequência e disputaram o posto de segundo lugar entre janeiro e junho deste ano.

Confira os ativos com maior participação nas carteiras de investidores com portfólios de R$ 50 mil a R$ 50 milhões em janeiro e junho:

Ativos Participação nas carteiras em jan/24 Participação nas carteiras em jun/24
CDB CDI 38,67% 30,08%
LCA/LCI CDI 29,57% 17,24%
CRI/CRA IPCA 13,49% 17,44%
CRI/CRA CDI 8,50% 8,12%
CDB prefixado 3,60% 6,69%
CRI/CRA prefixado 2,62% 3,86%
CDB IPCA 1,42% 4,29%
Tesouro IPCA 0,88% 7,25%
LCA/LCI prefixada 0,70% 3,16%
LCA/ LCI IPCA 0,54% 1,86%
Fonte: Smartbrain. Obs.: Os dados levam em conta a quantidade de aplicações realizadas mensalmente

A diminuição das alocações em LCIs e LCAs atreladas ao CDI é uma das mudanças citadas por Cruz, da Integrity, como mais significativa no estudo. “Usávamos muito LCI e LCA como liquidez depois de 90 dias, era quase o nosso caixa. Agora, tem que usar CDB e fundo”, diz a alocadora. A alteração ocorreu depois que o Conselho Monetário Nacional (CMN) aumentou a carência das letras em fevereiro deste ano, o que acabou diminuindo a liquidez, as taxas e a oferta desses produtos.

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