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Ferrari entra na corrida do carro elétrico, enquanto “boom” do segmento desacelera


Deslizando sobre esteiras transportadoras robóticas, uma linha de chassis da Ferrari manobra por uma sofisticada nova fábrica no norte da Itália. Em cada estação, engenheiros vestidos com uniformes vermelho-cereja adicionam um componente — um bloco de motor, um painel, um volante — à medida que transformam as carrocerias em veículos híbridos. A próxima etapa: totalmente elétrico.

Muita coisa depende do “e-building” (edifício eletrônico) da Ferrari, um investimento de 200 milhões de euros que entrou em operação no mês passado e tem quase o dobro do tamanho do Coliseu de Roma. A fábrica visa modernizar a fabricante de carros esportivos de 77 anos, conhecida pelo característico som de seus motores de combustão, rumo à era da eletrificação.

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Mas o esforço surge em um momento precário para a indústria automobilística. A transição para veículos elétricos, que deveria rapidamente inaugurar uma era de transporte mais amigável ao clima, foi, ao invés disso, dificultada por investimentos dispendiosos e pela desaceleração da demanda global.

Um carro na linha de produção da nova fábrica “e-building” da Ferrari em Maranello, Itália, que é usada para fabricar carros a gasolina e híbridos, em 20 de junho de 2024. A instalação também será usada para produzir o primeiro veículo totalmente elétrico da empresa. (Maurizio Fiorino/The New York Times)


Outras montadoras de luxo têm enfrentado desafios para se adaptarem à eletrificação. A Mercedes-Benz e a Lamborghini reduziram as suas ambições. Na terça-feira, a Tesla relatou uma queda nas vendas do segundo trimestre, enquanto a Ford Motor anunciou em abril que aumentaria a produção de veículos híbridos devido ao acúmulo de perdas com veículos elétricos. Uma crescente guerra comercial entre a China e o Ocidente também ameaça sufocar o crescimento.

Apesar dos desafios, a Ferrari vê uma oportunidade na inevitável marcha da indústria rumo à electrificação para alcançar um novo consumidor: o ambientalista rico. Ela pretende lançar seu primeiro modelo totalmente elétrico no quarto trimestre do próximo ano. Como parte de sua estratégia, a montadora recrutou a LoveFrom – agência fundada por Jony Ive, ex-chefe de design da Apple, e pelo designer industrial Marc Newson – para aprimorar a aparência do carro.

Há muitos mistérios envolvendo o carro ainda sem nome, como a duração da bateria e o ronco do motor. A empresa não revelou detalhes sobre sua aparência, produção ou preço. Mas analistas acreditam que esse pode ser um dos veículos elétricos mais caros do mercado, superando o Porsche Taycan Turbo GT, que sai por US$ 286 mil.

Um carro na linha de produção da nova fábrica “e-building” da Ferrari em Maranello, Itália, que é usada para fabricar carros a gasolina e híbridos, em 20 de junho de 2024. A instalação também será usada para produzir o primeiro veículo totalmente elétrico da empresa . (Maurizio Fiorino/The New York Times)



A incursão da Ferrari no setor elétrico será notável por outras razões. Os reguladores podem estar incentivando a produção dos veículos elétricos, mas há um ceticismo persistente no mercado. Conquistar os fãs dos motores de combustão não será fácil – nem mesmo para a Ferrari. E o setor está desesperado por uma montadora, qualquer uma, que prove que veículos elétricos podem gerar grandes lucros.

“Vale a pena observar se uma Ferrari elétrica consegue manter o tipo de preço premium que você associaria a uma Ferrari”, disse Martino de Ambroggi, analista automotivo do Equita, um banco de investimento em Milão. “Comprar uma Ferrari frequentemente é considerado um tipo de investimento. Só depois de alguns anos veremos se o investimento em uma Ferrari elétrica se manterá.”

O CEO da Ferrari, Benedetto Vigna, está fazendo o possível para manter o mercado na expectativa. No mês passado, em uma entrevista na nova fábrica, ele disse que a empresa iniciaria a produção de veículos elétricos em grande escala no início de 2026. Até 2030, os carros elétricos e híbridos representarão até 80% da produção anual da Ferrari, conforme a empresa procura cumprir os rigorosos mandatos de emissões da União Europeia.
Enquanto isso, o “e-building” lançará dois modelos: o SF90 Stradale, um híbrido plug-in, e o motor de combustão Purosangue.

A Ferrari não precisa de um veículo elétrico para impulsionar seus resultados financeiros. Sob Vigna, ex-executivo da fabricante de chips STMicroelectronics que assumiu o comando da Ferrari há quase três anos, a empresa está passando por um período de grande sucesso. Suas ações tiveram um dos melhores desempenhos na Europa este ano, o que resultou em uma avaliação de mercado de aproximadamente US$ 75 bilhões, superando a da Ford e da General Motors. Os lucros estão disparando junto com os preços da Ferrari, que fabrica alguns dos carros mais caros do planeta. Há uma lista de espera de três anos para alguns modelos.

O sucesso da Ferrari na pista de Fórmula 1 ao longo dos anos também resultou em lucrativos patrocínios corporativos e um negócio de produtos licenciados, transformando-a em uma marca de luxo com um apelo esportivo. O logotipo do cavalo empinado da Ferrari pode ser encontrado em roupas de alta qualidade, como um suéter de caxemira que custa EUR 790 (cerca de US$ 850).

Vigna vê veículos elétricos como parte da estratégia de crescimento da empresa, apesar da desaceleração do setor. “Existem alguns clientes potenciais, tenho-os claramente em mente, que nunca se tornarão parte da família a menos que haja um carro elétrico”, afirmou.

Um carro na linha de produção da nova fábrica “e-building” da Ferrari em Maranello, Itália, que é usada para fabricar carros a gasolina e híbridos, em 20 de junho de 2024. A instalação também será usada para produzir o primeiro veículo totalmente elétrico da empresa . (Maurizio Fiorino/The New York Times)

Mas há desafios no ar. Entusiastas que se reuniram na frente dos portões da fábrica no mês passado questionavam: o carro terá o visual, o desempenho e o ronco clássico da Ferrari ou terá o ruído discreto da maioria dos veículos elétricos?

“Quando você pensa em uma Ferrari, ainda lembra daquele tipo de sensação de motor e do ronco”, comentou de Ambroggi. “Não sei como a Ferrari resolverá isso.”

Vigna lida frequentemente com esse questionamento, especialmente de clientes antigos, ou Ferraristi. Eles parecem estar evocando o espírito do falecido fundador, Enzo Ferrari, que uma vez explicou de maneira simples como construiu alguns dos carros mais rápidos do planeta: “Eu construo motores e os afixo às rodas.”

O argumento que Vigna utiliza a respeito de veículos elétricos tem um toque diferente. “O motor elétrico não será silencioso”, disse. “Existem maneiras de garantir que a emoção de dirigir uma Ferrari elétrica seja a mesma de quando você dirige um híbrido ou uma Ferrari térmica.”

A duração da bateria é outra peça do quebra-cabeça. Como as Ferraris frequentemente são vendidas por preços mais altos no mercado secundário, a preocupação com a degradação da bateria e o impacto disso no valor do carro em longo prazo pode ser sentida de forma mais intensa pelos Ferraristi.

“Com a transição para veículos elétricos, surge uma série de novas questões para eles em termos de manutenção do carro”, afirmou Stephen Reitman, analista automotivo da Bernstein.

Vigna já está pensando em como comercializar o novo veículo elétrico. O cliente-alvo provavelmente não comprará o carro por razões puramente práticas ou mesmo para salvar o planeta, analisou, acrescentando: “A parte emocional do cérebro está impulsionando a compra”.

NYT: ©.2024 The New York Times Company

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