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China busca recuperar a economia e retomar o protagonismo nos mercados globais

O governo chinês cumpriu o que já era amplamente esperado pelo mercado e anunciou estímulos fortes para tentar alavancar a economia. Apesar de analistas já aguardarem algumas medidas, a magnitude impressionou, assim como o ineditismo de alguns dos estímulos.

“O governo chinês conseguiu entregar: i) uma ação coordenada; ii) estímulos numa magnitude maior que a esperada e; iii) medidas de suporte ao mercado de ações, como linha de crédito subsidiada para empresas recomprarem ações”, afirma Paulo Gitz, estrategista global, e Maria Irene Jordão, analista global do Research da XP em relatório sobre o tema.

China: retomada mais lenta

Em entrevista ao InfoMoney, o estrategista global destacou que, desde a pandemia, a China apresentou momentos mais difíceis do que o resto do mundo. Isso se deu, em parte, pela magnitude das medidas de lockdown no país (tanto pelas restrições mais severas quanto pelo tamanho da população).

Mesmo após a reabertura, o consumo não foi retomado nos patamares anteriores, como se viu em países com Estados Unidos, que apresentou rebote de consumo. “Pelo fato de eles não terem tido tantos estímulos e pela severidade dos lockdowns, o consumidor por lá ficou mais retraído. E, com isso, a economia não se recuperou como o governo esperava que ela se recuperasse”, destaca Gitz.

Desde então, o governo chinês adotou a postura de promover certos estímulos, porém apenas pontuais, na visão do estrategista. Em paralelo a isso, a relação entre Pequim e o setor privado passou a se deteriorar. Gitz afirma que um dos momentos emblemáticos iniciais dessa deterioração foi o cancelamento do IPO do Ant Group, braço financeiro do Alibaba, em 2020.

O estrategista destaca que, desde então, o governo tornou-se mais intervencionista, em 2022, chegando a alterar significativamente a dinâmica de empresas de educação continuada (transformando-as em “non profit”).

Isso, porém, se alterou recentemente e é parte dos motivos pelos quais o estrategista mantém (e há algum tempo defende) a aposta em China. “O governo está realmente mudando a postura com o setor privado, está ouvindo mais as empresas. Mas o desconto das ações, o desconto de múltiplo de valuation das ações chinesas continuou”, afirma.

Nova postura e estímulos

Com a mudança da postura intervencionista, que trazia incerteza para o investidor, a visão geral para China seguia negativa pela falta de crescimento da economia dentro do prometido. Essa perspectiva, no entanto, se alterou nesta última semana.

“Foi uma ação coordenada do governo chinês, com anúncio de diversas medidas. Algumas delas já estavam sendo aventadas ali no mercado, como por exemplo a história da taxa dos refinanciamentos de imóveis. Anunciaram coisas a mais e a magnitude do que eles anunciaram foi maior”, destaca.

Na visão do estrategista, o início de corte de juros pelo Federal Open Market Comittee (Fomc) do Federal Reserve nos EUA foi um dos catalisadores para o anúncio neste momento. O início do ciclo de afrouxamento da taxa de juros americana tanto demonstra uma guinada mais “‘estimulativa” no mundo em política monetária quanto reduz o risco de desvalorização da moeda local.

“Enquanto o Fed está com uma taxa muito alta, ele bota pressão na moeda dele. Ele fica com um diferencial de juros muito alto e a moeda fica pouco atrativa e desvaloriza a moeda dele”, sustenta Gitz.

Dentre as iniciativas inesperadas no anúncio, estão, por exemplo, linhas de crédito subsidiadas para compra de ações. De acordo com a explicação do estrategista, a medida consiste em linhas de swaps para gestores comprarem ações chinesas.

Dessa forma, fundos de pensão, seguradoras, e demais players do mercado contarão com linhas de crédito para compra de ações com taxa baixa, taxa subsidiada.

Para Gitz, os movimentos reforçam a visão positiva já cultivada pela divisão de análise da XP para os ativos chineses.

“A gente manteve o overweight (peso superior, similar a compra) aqui em China e temos ações na lista recomendada, acima do benchmark. Temos a visão positiva, porque, de fato, estava faltando esse pedaço de estímulos que o governo tem capacidade, tem potencial para dar”, afirma.

O que esperar?

Após os anúncios, mais um evento surpreendeu analistas: a realização de reunião extraordinária do Politburo, o comitê central do Partido Comunista chinês. Os encontros do grupo econômico do Politburo acontecem geralmente em abril, julho e dezembro.

Analistas já esperavam, na última reunião, que mais estímulos pudessem ser definidos e anunciados.

Dessa vez, o divulgado após a ocasião foi a emissão de títulos soberanos especiais no valor de cerca de 2 trilhões de yuans (US$ 284,43 bilhões de dólares) este ano como parte de um novo estímulo fiscal.

“Eles falaram de possibilidade de estímulo fiscal, que é algo que eles não fazem. A China não dá estímulo fiscal tradicionalmente. Mas foi falado em emissão de dívida e ‘em fazer bom uso dos recursos’, não falaram em que exatamente”, explica Gitz.

Imóveis

Outro ponto levantado pelo Politburo foi a contenção da quedas de preços no setor imobiliário. A retração do setor tem ampliado a dificuldade de consumo para a população chinesa.

Como explica o estrategista, com a queda de preços de imóveis, há sensação de perda de poder compra pela redução de preço do principal ativo da maioria das família em cerca de 30%.

Juntamente com o suporte ao segmento, o comitê também reforçou o apoio ao mercado de capitais (já contemplado na rodada de estímulos anunciada) e auxílio à empresas com dificuldades.

Potencial

Mesmo com a forte alta causada nessa semana por todo o contexto, a XP ainda considera que há espaço para valorização dos mercados. “A gente continua com a visão positiva, tem bastante potencial ainda… Bastante potencial”, afirma Gitz.

Dentre os nomes presentes na seleções de ações internacionais, o estrategista fala da PDD, dona da Temu, mas o principal nome escolhido segue sendo Alibaba.

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source https://www.infomoney.com.br/mercados/china-o-que-aconteceu-apos-anuncios-de-estimulos-e-o-que-esperar/

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