A expectativa por cortes de juros nos Estados Unidos, aliada à percepção de que a bolsa brasileira estava (e para muitos, continua) descontada, trouxe recentemente o investidor estrangeiro de volta à B3. Isso desencadeou um amplo movimento de valorização do mercado acionário local no mês passado, permitindo que Fundos de Investimentos em Ações (FIAs) com estratégias e exposições setoriais diferentes pudessem proporcionar desempenhos sólidos aos cotistas.
Em seu quarto mês consecutivo de altas, o Ibovespa avançou 6,54% em agosto, renovando suas máximas históricas intradiárias, aos 137.469 pontos, e de fechamento, aos 137.344 pontos, no dia 28.
Em setembro, porém, o cenário está mais conturbado, com a Bolsa acumulando perdas de 3,6%, com investidores realizando e voltando a se posicionar nas bolsas americanas, que renovaram recordes, diante da decisão do Federal Reserve de ser mais agressivo no início do seu ciclo de cortes de juros.
De toda forma, dezenas de ações na bolsa alcançaram seus picos de preços durante esse recente rali, com destaque para papéis dos setores de consumo, frigoríficos e financeiro.
Fundos de Investimentos em Ações (FIAs)
Nessa linha, o BB Ações Setor Financeiro FIC FI acumulou desempenho de 13,06%, impulsionado por grandes performances do segmento, como o avanço de 26% de Bradesco (BBDC4) e os ganhos de 16,87% registrados pela B3 (B3SA3).
E o Ártica Long Term FIA subiu 12,21%, apoiado pelas altas de 23,10% do Banco Mercantil (BMEB4) e 10,94% da Porto Seguro (PSSA3), que registrou máxima histórica durante o mês.
Os dados fazem parte de levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney. O estudo trata de veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas até o fim do mês de agosto. Fundos de monoação (que investem em um único papel) ficaram de fora da pesquisa.
Empresas bem posicionadas
Ivan Barboza, sócio-fundador da Ártica, diz que, apesar do cenário macro ainda nebuloso, com reflexões políticas e econômicas mais barulhentas do que o necessário, há empresas bem posicionadas na bolsa que podem se beneficiar de momentos de maior fluxo, como ocorreu no mês passado.
“A Porto Seguro está entregando no segmento de seguro saúde, conseguindo preços melhores que a concorrência por conta do seu foco em pequenas e médias empresas. E o Mercantil, especializado no atendimento de aposentados do INSS, tem avançado com a oferta de produtos que vão além do consignado”, diz.
A Marcopolo (POMO4), com ganhos de 25,21%, também ajudou. Segundo Barboza, a empresa teve um crescimento de demanda rápido porque a frota brasileira de ônibus estava e segue envelhecida. Como não há grande capacidade de ampliação de produção, afirma-se que a empresa é rentável e vai continuar.
Outro fundo que se beneficiou de tese voltada para o cenário doméstico, ainda que com viés distinto, foi o Moat Capital Advisory FC FIA. O fundo avançou 9,19% no período, em parte apoiado pelos ganhos de 8,72% da Vivara (VIVA3), conta Adriano Leite, sócio e responsável pela área de relações com investidores da gestora.
Segundo o executivo, o papel sofreu muito com a mudança de comando que ocorreu na empresa e o técnico também foi ruim porque muitos investidores estavam comprados no papel. “Depois da queda recente, ‘deu uma limpada’. Agora, com dinâmicas micro e macro positivas, ficou evidente que o papel estava barato”, diz.
O grande destaque da carteira da Moat, no entanto, foi a BRF (BRFS3), que saltou 24,55%. Leite diz que a casa carrega a posição desde 2020 e que a performance deste ano é uma materialização da tese de compra. Tanto em termos de setor, que vive um ciclo mais favorável com o preço do milho caindo e do frango subindo; como no âmbito operacional da empresa, que, segundo ele, tem melhorado e deve render dividendos à frente.
No caso do Itaú Ações Asgard FC, que teve ganhos de 9,24% em agosto, o beta local e o setor de utilidades ajudaram, mas a maior influência positiva no desempenho veio de posições nos setores de tecnologia e consumo discricionário no exterior (o fundo pode alocar até 40% do seu patrimônio fora do Brasil), conta Luiz Ribeiro, gestor de renda variável dos fundos Asgard e Dunamis da Itaú Asset.
“A baixa exposição às commodities também ajudou”, diz. “O posicionamento também estava leve, tanto estrangeiros, como locais, que são mais reativos e podem aumentar exposição se a bolsa andar mais. E acho que essa dinâmica vai continuar funcionando. O valuation ainda é bom, há poucas opções em mercados emergentes”, disse.
“Temos muito barulho local que não é tão relevante e, mesmo com a alta de juros, se a credibilidade do Banco Central crescer pode ser positivo. Curva longa é o que interessa.”
PIB ajuda na tese doméstica
Ribeiro diz que sua aposta local é em teses domésticas, porque o PIB vem surpreendendo para cima e isso não está, em sua visão, totalmente precificado.
Setorialmente, a casa tem preferência por bancos, por acreditar que o ciclo de crédito está em ponto interessante, crescendo com inadimplência em baixa. O consumo é mais seletivo, com teses mais defensivas. Entre as preferências, estão farmácias e utilidades.
A Moat também espera que a queda dos juros lá fora ajude, enquanto o Brasil segue mais atento à dinâmica fiscal. Segundo Leite, o resultado das empresas está bom, os preços atrativos e a carteira da gestora está mais posicionada em ativos locais do que globais.
“Mas não é momento de comprar o índice. Há muitas placas tectônicas se mexendo, com commodities caindo e setor bancário também requerendo seletividade.”
Barboza, da Ártica, opina que as discussões macro têm sido mais barulhentas do que o necessário e que o juro pode subir um pouco, mas no médio prazo tende a voltar. “A média histórica é na faixa dos 10%, com 5% de inflação e mais 5% de juro real”, diz.
“Temos algumas teses mais sensíveis ao cenário macro, no setor imobiliário e também Multilaser (MLAS3), que ainda não se recuperou. Segue barata, mas precisa ter algum gatilho mais contundente para subir”, finaliza.
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