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Ansiedade no esporte: Como a pressão por resultados afeta a saúde mental de atletas

A pressão por resultados e a exposição constante transformaram a ansiedade em um dos maiores desafios para os atletas de alto rendimento, já que o sentimento é inevitável dentro dessa área esportiva.

Entre sintomas físicos como tensão muscular e palpitações, e sinais emocionais como medo de falhar e insegurança, essa condição pode tanto impulsionar quanto prejudicar o desempenho esportivo, dependendo de sua intensidade e manejo.

Especialistas apontam que mais do que enfrentá-la, entender a ansiedade é o primeiro passo para evitar que ela comprometa o desempenho e a saúde mental dos atletas, já que se o transtorno não for acompanhado, pode se agravar.

Segundo Thiago Viana, médico do esporte e nutrólogo, entre os principais fatores que geram ansiedade em atletas estão a pressão por resultados, preocupações com lesões, comparações com outros competidores, além do medo de desapontar as pessoas ao redor como familiares, treinadores e torcedores.

Sensações físicas da ansiedade

A ansiedade pode surgir e se manifestar de várias formas na trajetória esportiva. Pode acontecer antes de competições decisivas, estreias em novos clubes ou até mesmo durante treinamentos intensos.

Em relação à ansiedade pré-competição, Alexandre Conttato Colagrai, doutor em Psicologia do Esporte pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP, descreve que o atleta sente toda aquela sensação que ocorre em momentos de enfrentar um adversário ou prova.

“É um momento de incerteza, porque a vida é incerta, o resultado é imprevisível. Portanto, isso gera ansiedade, o que, dependendo da intensidade pode ser benéfico ou maléfico”, disse.

O psicólogo explica que pode ser benéfico no sentido de “ligar” um sistema de alerta no organismo do atleta, sinalizado como a dilatação da pupila para prestar mais atenção, aumento de batimento cardíaco e maior circulação sanguínea e a contração muscular.

Também há o lado maléfico, pois, segundo Colagrai, se essa intensidade for muito elevada que faz com que o atleta paralise, além de tensionar demais os músculos não o permite desempenhar bem, pode perder o foco, e ficar preso aos seus pensamentos.

“A ansiedade é fruto de pensamentos, pensamentos futuros, tentando antecipar o que pode ocorrer e a pessoa ser prejudicada quando isso ocorre.”

Viana descreve que além da parte física, os atletas podem sentir o peso da competição, gerando pensamentos acelerados ou até mesmo negativos. “O medo de falhar sobrecarrega o lado emocional e leva a uma pressão maior”, explica Viana.

Os especialistas afirmam que outros fatores acabam induzindo os gatilhos da ansiedade, principalmente quando se trata do desenvolvimento de lesões. Além disso, questões externas, como a cobrança de torcedores e familiares, também desempenham um papel importante. “A lesão é um fator agravante para o atleta”, disse Colagrai.

“É como se fosse um luto, onde ele perde parte de sua vida ali, o que gera além de ansiedade sobre o futuro, quando vai voltar a atuar, como será o tratamento dessa lesão, como será a recuperação, contratos… Ele ainda desenvolve sintomas depressivos, com perda de esperança e baixa autoestima”

Viana complementa: “Mudanças na rotina e o medo de desapontar familiares e treinadores também são fatores que intensificam a ansiedade”.

Impactos no desempenho esportivo

Quando a ansiedade não é bem manejada, o impacto no desempenho esportivo pode ser devastador. Colagrai destaca que, em níveis excessivos, ela pode resultar em estresse elevado e maior risco de lesões, além de prejudicar a execução de movimentos técnicos.

Já Viana explica que, na prática, a ansiedade pode atrapalhar tanto a concentração quanto o controle motor. “Um atleta ansioso pode ficar mais tenso, o que dificulta a realização de movimentos técnicos, como arremessos no basquete ou recepções no vôlei. Além disso, o excesso de preocupação pode levar a um esgotamento mental”, destaca.

Estratégias para gerenciar a ansiedade

Ambos especialistas acreditam que a preparação física e mental tem um desempenho fundamental no controle da ansiedade. Técnicas como respiração controlada, visualização de cenários positivos e mindfulness (atenção plena) são amplamente recomendadas.

Muitos atletas precisam ter emprego fora do esporte (Foto: Divulgação)

O médico explica que a visualização, por exemplo, é quando o próprio atleta se imagina tendo sucesso em uma competição. Em combinação com o controle do pensamento negativo (por meio de afirmações positivas e o foco em estratégias específicas), o atleta pode aliviar os sintomas da ansiedade. 

“Um exemplo seria um jogador de basquete que, antes de uma final, usa a técnica de visualização para se ver fazendo os arremessos”, disse.

Para Colagrai, é essencial que o trabalho emocional seja tratado com a mesma importância que o técnico-tático, uma vez que não é possível deixar de lado o trabalho com as emoções. 

O psicólogo destaca que, embora o treinamento físico seja fundamental para o desenvolvimento do atleta, uma estratégia pode ser o ajuste do treinamento dele para não causar tanto estresse. 

“O ajuste no treinamento físico é relevante, já que excesso de exercício aumenta estresse e lesões, mas é igualmente importante trabalhar as emoções e a forma de enfrentamento do atleta diante dos desafios. Encoraja-se um foco no processo e nas metas passo a passo, em vez de olhar apenas para o resultado final”, disse.

A importância do acompanhamento psicológico

Muitos atletas, como Vitor Roque, contratam coaches para ajudar com a pressão e a saúde mental. Porém, os especialistas reforçam que o ideal é que haja acompanhamento psicológico de fato.

O psicólogo esportivo e o coach desempenham papéis distintos no desenvolvimento de um atleta, embora ambos contribuam para melhorar o desempenho. 

O psicólogo se concentra no autoconhecimento, nas emoções e no bem-estar mental do atleta, abordando questões como ansiedade, autoestima e controle de estresse. 

Ele oferece um trabalho profundo, individualizado e especializado, ajudando o atleta a lidar com fatores emocionais e psicológicos que impactam o desempenho. 

Já o coach foca em estratégias práticas, como o desenvolvimento de habilidades e o alcance de metas, utilizando métodos padronizados para motivar e melhorar o desempenho. Viana reforça a importância do acompanhamento multidisciplinar: “O coach pode ser útil em questões práticas e motivacionais. O ideal é combinar as abordagens”.

Alexandre Colagrai ressalta, porém, que há uma relação complicada com a psicologia em si, que pode causar preconceitos.

“O coach ganhou espaço pelo preconceito existente com o termo psicologia, por estar associado com problemas, como ‘doenças mentais’ e loucura, o que não é verdade”, disse. 

“A psicologia auxilia todo e qualquer ser humano a encontrar o seu melhor dentro de si, a se compreender, a compreender sua história e consequentemente o seu agir no mundo, ela ajuda a pessoa a compreender o mundo e a como lidar com ele de acordo com suas características”

Portanto, para um trabalho eficaz e holístico, ambos os profissionais podem ser essenciais, mas é fundamental que o psicólogo tenha uma abordagem mais profunda e personalizada, enquanto o coach atua no plano de metas e habilidades.

Sinais de alerta: quando a ansiedade se torna um problema grave

Os especialistas alertam que a ansiedade pode evoluir para um problema de saúde grave quando começa a impactar de forma significativa o dia a dia do atleta. “Sintomas como insônia persistente, crises de pânico frequentes e falta de interesse pelo esporte são sinais de que algo está errado e precisa ser tratado”, diz Viana.

Colagrai acrescenta: “O atleta pode apresentar irritabilidade excessiva, desatenção ou falhas motoras. O olhar atento ao ser humano que existe antes do atleta é fundamental para identificar esses sinais.”

Os desafios da ansiedade podem ser superados com o devido suporte profissional. Colagrai compartilha o caso de um atleta que encerrou a carreira precocemente devido à ansiedade e lesões recorrentes. 

“Ele não conseguia controlar a carga de treino e tinha uma preocupação excessiva com a opinião alheia. Após iniciar o trabalho psicológico, compreendeu essas questões, mas o diagnóstico tardio não evitou o fim da sua carreira”, afirmou.

Viana destaca o caso de um corredor que enfrentava crises de ansiedade antes das competições. “Com psicoterapia, técnicas de respiração e ajustes no treino, ele conseguiu reduzir a pressão interna e melhorar o desempenho, tanto físico quanto mental”, disse.

As histórias demonstram que a ansiedade é um desafio complexo, mas que pode ser manejado com estratégias adequadas, preservando não apenas o desempenho esportivo, mas também a saúde e o bem-estar dos atletas.

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