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Pequenas e médias empresas devem sofrer mais com alta de juros e dólar

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O cenário econômico formado nas últimas semanas deve anunciar um início de ano mais complicado pelas pequenas e médias empresas (PMEs). Por um lado, a perspectiva de aumento nos juros torna ainda mais apertadas as opções de captação de recursos junto aos bancos; enquanto isso, empresas que gastam em dólar podem ver suas margens mais apertadas com a elevação da cotação da moeda.

Diante de um cenário de persistência da inflação e desafios do ponto de vista fiscal, o Copom decidiu por elevar a taxa básica de juros, Selic, a 12,25% em sua última reunião, com sinalização de ao menos dois novos aumentos na casa de 1 ponto percentual. Acompanhando as perspectivas menos otimistas, o dólar disparou até próximo à casa de R$ 6,20, contra o patamar de R$ 5,7 em outubro.

Tudo isso compõe um cenário especialmente difícil para o grupo de pequenas e médias empresas que operam com margens mais apertadas, são importadoras de insumos e dependem do capital de terceiro para manter ou expandir seus negócios.

O fator juros

“Inicialmente, pequenas e médias empresas chegam a um nível de produção em que é muito comum precisar tanto de um fluxo de caixa quanto de um nível de endividamento para poder expandir, que demanda captar recursos”, diz o especialista em derivativos da XP, Matheus Martin. “Dificilmente uma empresa [desse tipo] consegue ter acesso a investidores institucionais, fundos de investimento, que façam aportes no estágio de vida em que elas estão.”

Para Martin, os juros são uma parte de um tripé de riscos que deve ser observado pelas empresas, junto ao câmbio e ao preço dos insumos.

Acontece que com os juros mais elevados, a margem das empresas fica mais comprometida: isso é, o custo para pagar as dívidas “come” uma parte do percentual que a empresa consegue lucrar com sua atividade.

Nesse cenário, até mesmo uma incomum capitalização para empresas desse porte por meio de venda de participação fica ainda mais difícil. Para o investidor, vale mais a pena aplicar seu dinheiro em um produto conservador atrelado à taxa de juros.

Um outro elemento macroeconômico dificulta a vida dos menores: a ideia do Banco Central ao elevar os juros é frear o aquecimento da economia e reduzir a inflação, o que significa que as empresas vão vender menos produtos e serviços.

Busca por alternativas

“Médias e grandes empresas sofrem com esse cenário macroeconômico, mas com certeza o pequeno sente mais. O repasse de custos para esse tipo de cliente é imediato. Ele tem pouquíssimo poder de barganha”, diz o CEO e fundador da fintech Flip, Raphael Levi.

A Flip é especializada em crédito com garantia de recebíveis para pequenas e médias empresas. Levi avalia que a falta de alternativa aos grandes bancos acaba elevando os juros pagos por empréstimos por esse grupo de empresas. Diante de um cenário de maior aperto monetário, essas companhias buscam meios de financiamento mais baratos.

Na própria Flip, o número de clientes potenciais registrados da base de dados de forma orgânica (ou seja, que buscaram por conta própria a empresa) cresceu 36% desde o início do ano até 23 de dezembro de 2024. Na comparação dos últimos três meses de 2023 com o mesmo período de 2024, o aumento foi de 58%, para 11,7 mil.

Martin, da XP, atua da mesa de derivativos para pequenas e médias empresas. São contratos baseados em outros ativos. No caso da corretora, naquele tripé: dólar, juros e insumos. A ideia é comprar produtos em um período de preços melhores para o negócio em busca de proteção para variações.

É o caso do dólar. Frente à atual escalada da moeda americana, uma empresa mais exposta à importação de bens ou serviços que recebe em Real acaba pagando mais caro nessas negociações. A ideia seria fazer contratos de derivativos com o dólar baixo e se proteger quando ele estiver alto.

No caso de grandes empresas, é mais comum ter um setor responsável por gerenciamento de risco. Não é a realidade das menores, que muitas vezes precisam lidar com mudanças macroeconômicas enquanto elas acontecem.

A avaliação de Martin é de que o gerenciamento de risco é visto com receio por muitas empresas devido a casos de empresas que utilizaram a ferramenta em busca de resultado financeiro. Um caso icônico é o da Sadia, que em 2008 anotou prejuízos financeiros próximos a R$ 2,5 bilhões com operações de derivativos cambiais.

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