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Adversários no exílio, oposição de fachada e repressão: como é a “eleição” em Belarus

As principais lideranças de oposição estão exiladas em países ocidentais, os quatro candidatos permitidos de concorrer são aliados ou simpatizantes do presidente Aleksandr Lukashenko, as críticas em redes sociais estão sob um “apagão” de censura, e as forças de segurança estão de prontidão para qualquer protesto. Essa é a fotografia da eleição em Belarus marcada para este domingo (26), que deve apenas referendar a vitória do líder nacionalista, no poder desde 1994.

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Lukashenko, aliado incondicional de Vladimir Putin, tomou várias medidas para garantir seu sétimo mandato presidencial.  A lei eleitoral foi deliberadamente endurecida: os candidatos agora precisam residir na Bielorrússia há 20 anos e não ter status de residência em nenhum outro país. Logicamente, isso excluiu os políticos asilados em outros países.

Não haverá observadores imparciais e nem votação no exterior, para evitar a participação no pleito de críticos ao regime.

Três dos candidatos de “oposição” são líderes de partidos do bloco pró-Lukashenko. Sergei Syrankov, por exemplo,  o primeiro-secretário do Partido Comunista, declaradamente stalinista, já falou que não ia concorrer contra, mas “junto com” Lukashenko.

Já o chefe do Partido Liberal Democrata, Oleg Gaidukevich, um antieuropeu convicto, declarou que ficaria feliz em parabenizar Lukashenko no dia da eleição. E o líder do Partido Republicano para o Trabalho e a Justiça, Alexander Khizhnyak, descreveu seu oponente Lukashenko como “a escolha certa”.

Especialistas dizem que, mesmo a formalmente independente Hanna Kanapackaya, que foi “nomeada” para servir como deputada da oposição de 2016 a 2019, não muda o quadro geral.

“Ameaças” do Ocidente

Segundo análise do ZOiS, um centro de estudos políticos do Leste Europeu, as narrativas pró-governo que circularam no período que antecedeu as eleições repetia as mesmas teses dos últimos anos, como “O Ocidente está ameaçando a Bielorrússia”; ‘A oposição se vendeu ao Ocidente’; ou “Lukashenko é o garantidor da estabilidade”.

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Mesmo com mais de 1.200 presos políticos, uma oposição forçada ao exílio e o fechamento da mídia independente e de mais de 1.800 ONGs e partidos políticos nos últimos anos, a repressão do governo no período que antecedeu as eleições não tem dado tréguas.

“Há sinais de que o Estado está passando da autocracia para o totalitarismo, à medida que se esforça para controlar toda a sociedade, incluindo a esfera privada”, diz o centro de estudos.

Organizações de direitos humanos registraram um aumento nas atividades das forças de segurança desde o início da campanha eleitoral, incluindo intimidação e chantagem de potenciais ativistas no trabalho, ou demissões devido a supostas atividades contra o regime em 2020.

A ideia de usar os militares para proteger as seções eleitorais tem sido abertamente discutida.

Abertura, protestos e repressão

Curiosamente, a maior repressão agora está diretamente ligada aos efeitos de uma abertura política desde 2015, quando houve uma certa liberalização do regime e a normalização das relações entre a Bielorrússia e a União Europeia.

Após a Bielorrússia adotar uma posição neutra em relação à Ucrânia em 2014 e depois de realizar eleições relativamente tranquilas, embora não livres, em 2015 e 2016, a UE suspendeu a maioria de suas sanções contra a Bielorrússia, notadamente após o governo libertar prisioneiros políticos.

Mas essas mudanças políticas e sociais contribuíram para uma ampla mobilização em massa anti-Lukashenko em 2020, que apanhou as autoridades bielorrussas desprevenidas.

Isso levou a uma mudança no modelo sociopolítico da Bielorrússia. Houve reforço no aparato do serviço de segurança (“Siloviki”), — um número crescente de cargos de liderança civil no governo e nas autoridades locais foi dado a membros desse pessoal.

E passou a ser praticada repressão em larga escala contra todas as formas de dissidência pública. E Bielorrússia deixou a posição de neutralidade e forneceu seu território, espaço aéreo e infraestrutura militar para as tropas russas invadirem a Ucrânia.

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