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Loteria de US$ 1,9 bi nos Estados Unidos expõe desconfiança financeira da população

É fácil repreender os americanos obcecados pelo prêmio da loteria Powerball, que recentemente alcançou um recorde mundial de US$ 1,9 bilhão. Sim, as chances de ser atingido por um raio são muito maiores do que ganhar na loteria. Mas a necessidade de escapar financeiramente é compreensível.

O outono não tem sido particularmente agradável em termos de confiança financeira nos Estados Unidos.

Embora os empregos ainda sejam abundantes e a administração Biden mantenha um tom otimista, há uma crescente sensação de que sérios problemas econômicos estão por vir. Os rumores de recessão são inescapáveis. As taxas de juros continuam subindo. Os mercados estão em queda. A alta inflação faz com que o dinheiro na conta bancária perca valor. A confiança do consumidor está em baixa. Há uma guerra e uma crise energética na Europa. Medos em relação a variantes da COVID e uma nova epidemia de gripe aumentam a tensão. À medida que nos aproximamos das eleições intermediárias, apenas 19% dos americanos afirmam que a economia está no caminho certo.

Com seus planos 401(k) (previdência corporativa dos Estados Unidos) oferecendo pouco alívio, muitos americanos voltaram sua atenção para o prêmio da Powerball, que vem crescendo há meses. Apesar das chances de ganhar o prêmio principal serem de uma em 292,2 milhões, os americanos estão buscam saber como receber seu prêmio, caso vençam: a opção de pagamento à vista ou a anuidade. Preocupar-se com um problema tão agradável — por mais absurdo que pareça — é, em si, uma forma de escapismo financeiro. E, como evidenciado por um tweet viral sobre como maximizar os dias de férias pagos, as pessoas estão ávidas por qualquer alternativa otimista nesses tempos sombrios.

O interesse pelo prêmio da Powerball é tão alto que pequenos problemas com máquinas de venda de bilhetes ganham destaque nas transmissões locais de notícias, e os residentes nos cinco estados sem Powerball sentem uma séria inveja.

Ganhar o prêmio permitiria que os vencedores deixassem seus empregos e se tornassem muito menos vulneráveis a forças econômicas fora de seu controle. Mas, na falta disso, muitas pessoas ainda estão interessadas em estratégias de trabalho que podem ajudá-las a ter um pouco mais de controle sobre suas vidas, especialmente se a recessão amplamente prevista levar a demissões em massa (cuidado, trabalhadores remotos) e os empregadores começarem a recuperar a vantagem.

Considere o usuário do Twitter @afashola_, cujo tweet de 24 de outubro acumulou 35 mil retweets e quase 200 mil curtidas. A estratégia deles gira em torno de tirar dias de férias logo após ou antes dos feriados da empresa. Se aplicada corretamente, segundo o tweet, seria possível conseguir 46 dias de folga em 2023.

Muitos comentaristas apontaram falhas nessa estratégia, mas a popularidade inesperada do tweet sugere que os funcionários estão ansiosos por mais controle sobre seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

A mania da Powerball em meio à queda da confiança

Os americanos não dispensariam um empurrão. A classe média sofreu um golpe nos últimos meses. Em meados de outubro, a riqueza média dos 40% na faixa central de renda nos Estados Unidos caiu 7% desde março, segundo novos dados disponibilizados pela Bloomberg e produzidos por economistas da Universidade da Califórnia, Berkeley. Esse tipo de declínio na riqueza — estimado em cerca de US$ 27 mil — não era visto desde a crise financeira global de 2008.

Além disso, atividades que poderiam ter proporcionado uma sensação de escapismo financeiro na década de 2010 mostraram-se menos confiáveis recentemente. Pense no investidor de criptomoedas ou no trader de ações meme, cujos grandes lucros se transformaram em perdas acentuadas.

E, não surpreendentemente, a confiança do consumidor nos EUA caiu na leitura de outubro do Índice de Confiança do Consumidor do Conference Board. O Present Situation Index (baseado na avaliação dos consumidores sobre as condições atuais de negócios e do mercado de trabalho) caiu acentuadamente de 150,2 para 138,9. O Expectations Index (baseado na perspectiva de curto prazo dos consumidores sobre renda, negócios e condições do mercado de trabalho) caiu para 78,1, de 79,5.

“O Present Situation Index caiu acentuadamente, sugerindo que o crescimento econômico desacelerou no início do quarto trimestre. As expectativas dos consumidores em relação ao cenário de curto prazo continuam sombrias. O Expectations Index ainda permanece abaixo da marca de 80 — um nível associado à recessão — sugerindo que os riscos de recessão parecem estar aumentando”, afirmou Lynn Franco, diretora sênior de indicadores econômicos do Conference Board, em um comunicado.

Apenas 17,5% dos consumidores afirmaram que as condições de negócios eram “boas”, uma queda em relação a 20,7%, e 24% disseram que eram “ruins”, um aumento em relação a 20,9%. E, olhando para o futuro, 23,3% esperam que as condições de negócios piorem nos próximos seis meses, um aumento em relação a 21,9%.

Talvez todo esse pessimismo ajude a explicar outro tipo de escapismo: a nostalgia, que recentemente ganhou força em um local inesperado: o McDonald’s. A gigante do fast-food, que superou as estimativas de Wall Street em seu terceiro trimestre, apesar dos preços mais altos, lançou “happy meals” para adultos, projetados para se parecerem com os de décadas passadas, com versões quase psicodélicas de mascotes como o Papa-Búrguer e o Shake. A demanda foi tão forte que funcionários do McDonald’s em fóruns online imploraram aos clientes que parassem de pedir as refeições, que estavam em falta.

A ideia de evocar memórias de infância entre os clientes mais velhos funcionou como um charme. Com muitos dos principais economistas e CEOs se preparando para uma recessão difícil, o desejo por tempos mais simples, como a estratégia para um prêmio improvável, pode ser difícil de resistir.

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