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Golfo do México ou “da América”? Não é só Trump que que mudar nome geográfico

Quando o presidente Donald Trump sugeriu e depois decretou que os Estados Unidos iriam passar a denominar o Golfo do México como “Golfo da América” houve quem considerasse isso mais um dos muitos rompantes nacionalistas do republicano e até quem duvidasse de sua eficácia. Mas a disputa de topônimos internacionais não se resume aos americanos e tem outros casos que se arrastam á décadas.

Em sua definição, os topônimos são a ligação entre um lugar e uma identidade, ou seja, são um dos vetores na definição da identidade de um lugar. A forma pela qual as pessoas se identificam com uma determinada região geográfica passa pela sua nomeação, o que gera a percepção de pertencimento territorial.

Assim, dizem os geógrafos, a renomeação de um lugar gera efeitos, tanto de ordem objetiva como subjetiva, já que representa mexer numa herança simbólica que tem bases geográficas, mas também históricas, culturais, sociais e linguísticas.

Leia também: Trump assina ordem para renomear Golfo do México como ‘Golfo da América’

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A ONU dá tanta importância ao tema que possui desde 1960 um grupo de especialistas em nomes geográficos, o UNGEGN. Esse grupo luta pela padronização dos nomes  em mapas e documentos, por considerar isso uma medida de eficiência, por gerar economia de tempo e dinheiro para governos, indústria, comércio e educação.

Para a ONU, isso é particularmente verdadeiro na produção de mapas e cartas, nas operações de censo, em casos de defesa nacional e na comunicação terrestre, aérea e marítima doméstica e internacional. Também ajuda em entregas postais e marítimas, segurança terrestre e aquática, controle de desastres e em pesquisa demográfica, cultural, social e científica.

Leia também: Nome “Golfo do México” é reconhecido internacionalmente, diz presidente do México

Outras disputas

Mas essa padronização não é um ponto pacificado porque, muitas vezes, envolve disputas entre países.

O Mar do Japão, por exemplo, é uma denominação aceita pelo mundo, mas não reconhecida pelas Coreias do Sul e do Norte, que sugerem usar Mar do Leste ou Mar do Oriente Coreano, respectivamente.

Nem a ONU consegue resolver o impasse e, em muitos mapas, o Mar do Leste aparece entre parênteses logo após a denominação-padrão. No Google Maps, são usados os dois nomes, de acordo com a proximidade de cada país.

Outro caso é o do Golfo Pérsico, que só é chamado assim pelo Irã, pois os países árabes preferem a denominação de Golfo Arábe-Pérsico ou apenas Golfo.

E A Grécia sempre se opôs à denominação do país chamado Macedônia, um dos sucessores da antiga Iugoslávia, por achar que esse nome é uma referência exclusiva ao seu passado, até que aceitou num acordo em 2018 que a nova nação fosse reconhecida como Macedônia do Norte.

Mudanças e transformações

Ou seja, a controvérsia gerada por Trump não só não é exclusiva como pode levar anos até ser resolvida. A mudança de um topônimo traz questões mais complexas e subjacentes, já que a sociedade também muda.

E existe o outro lado, quando a mudança de nomes de lugares pode ser feita para propor transformações na sociedade. Há um movimento nas últimas décadas de resgate histórico de nomes de povos originários, como denominações ligadas aos aborígenes na Austrália ou de nações indígenas nos EUA.

Trump também já passou sua mensagem sobre como tratar o revisionismo histórico, ao ordenar que fosse resgatado no nome do “Monte McKinley”, no Alasca, em homenagem ao ex-presidente William McKinley, assassinado no exercício do mandato, em 1901. Desde 2015, na administração de Barack Obama, a montanha vinha sendo denominada Monte Denali, em homenagem a uma tribo local.

As movimentações de Trump para renomear regiões e locais, especialmente o Golfo do México, têm recebido forte críticas de especialistas. O renomado geógrafo Frédéric Giraut, escreveu em artigo no jornal francês Le Monde que a medida mostra as  “ambições neocolonialistas do presidente” eleito.

“Juntamente com as reivindicações territoriais do Canadá, Groenlândia e Panamá, o anúncio de que pretende renomear o Golfo do México como “Golfo da América” constitui uma declaração toponímica de guerra contra o México e, mais amplamente, contra os estados da América Central”, escreveu.

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