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Natulab reduz dívida pela metade em ‘ano de cachorro’ sob gestão de ex-Bombril

SANTO ANTÔNIO DE JESUS (BA) – A Natulab, farmacêutica especializada em medicamentos que não precisam de prescrição médica e fitoterápicos, está prestes a completar “um ano de cachorro” no próximo mês de abril.

São palavras do próprio presidente do conselho de administração da empresa, mas não no sentido de um período de dificuldades, esclarece Ronnie Motta. Ele se refere à velocidade das transformações vividas pela Natulab, um negócio de mais de duas décadas, em um período de meses. A farmacêutica conseguiu positivar seu patrimônio líquido, que vinha há anos no negativo, e reduziu consideravelmente sua dívida de nove dígitos.

O chairman deixou o cargo de CEO na Bombril e chegou à Natulab depois que o family office do qual é sócio, o Pettra, assumiu o controle da farmacêutica. O fundo comprou a participação do Pátria, que tinha 80% do capital da Natulab, e logo passou a deter a totalidade do negócio. Isso porque os minoritários foram obrigados a vender sua fatia remanescente (conforme mandava a cláusula de drag along).

Não foi uma saída pacífica, vale ressaltar: esses sócios, italianos que detinham 20% da Natulab, chegaram a contestar a venda para o Pettra na Justiça, por não concordarem com os termos da transação.

Como o comprador adquiriu uma empresa deficitária e precisou injetar recursos para manter o negócio de pé, o pagamento aos antigos acionistas vai ser feito de maneira faseada a partir de 2027 – o valor não foi revelado. Na nova Natulab, Ronnie Motta faz a co-gestão das operações da empresa junto com o CEO, Guilherme Maradei, executivo com vasta experiência em multinacionais e que ingressou na farmacêutica em 2021.

Ronnie Motta, ex-Bombril, está na presidência do conselho da Natulab (Foto: Divulgação/ Ezival Souza)

Fundo injetou recursos na Natulab

O Pettra fez um aporte de aproximadamente R$ 180 milhões da Natulab. Os recursos deram “fôlego de caixa” para a empresa e foram principalmente direcionados para a recomposição de estoques e aumento do quadro de funcionários em 10%. A injeção de capital também possibilitou à farmacêutica um reperfilamento de dívida, mais “barato” e alongado.

“A dívida estava muito cara pelo risco da companhia, que vinha com o Ebitda próximo de zero nos últimos anos”, afirmou Motta ao InfoMoney.

O Pettra assumiu a Natulab com uma dívida de R$ 240 milhões. Hoje a cifra foi reduzida para menos da metade, segundo o chairman. Por não se tratar de uma companhia aberta, os números não são públicos, mas Motta garante que a Natulab terminou 2024 “com o maior Ebitda de sua história”.

O faturamento, segundo ele, cresceu 35%, ainda que o número de unidades vendidas tenha se mantido no mesmo nível de 2023, em 150 milhões. Aumento de receita não era um problema para a Natulab – a empresa, inclusive, vivia um cenário de demanda maior do que a oferta. As margens, porém, não acompanhavam esse crescimento.

“Crescemos adequando e rentabilizando o portfólio”, explica Motta. “Olhamos cirurgicamente para cada pedido de venda, alteramos descontos. Definimos que não podíamos vender nada com margem negativa”.

Busca por maior entrada nas grandes farmácias

Fabricante do calmante fitoterápico Seakalm e da dipirona Maxalgina, a Natulab tem 98 marcas ativas e fornece medicamentos e suplementos para 95% das farmácias brasileiras. Ainda que esteja nas prateleiras das grandes redes, elas ainda respondem por apenas 20% da receita da companhia. O “grosso” do faturamento vem das pequenas – e a Natulab está em busca de um equilíbrio nessa conta.

Para isso, a farmacêutica tem investido mais em marketing, comprando espaços publicitários em programas da TV aberta e outros canais de mídia offline e online. A empresa entende que consumidor das grandes drogarias buscam marcas top of mind.

Crescer nas maiores redes, diz o chairman, ajuda o laboratório a ganhar notoriedade, o que também gera valor para a empresa enquanto terceirizada. Hoje, a Natulab produz medicamentos para concorrentes de grande porte – são sete clientes, até agora, sendo cinco contratos assinados no último ano.

“Muitas empresas nos procuram porque o nosso custo de produção é mais barato. Nossa capacidade produtiva é grande e temos poder de escala, porque vendemos muito”, explica Motta. O InfoMoney apurou que o faturamento da Natulab em 2023 foi de R$ 500 milhões.

Medicamentos são envasados na fábrica da Natulab em Santo Antônio de Jesus (BA) (Foto: Divulgação/ Ezival Souza)

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Quanto a Natulab produz

A reportagem do InfoMoney viu estantes lotadas no centro de distribuição da empresa em Santo Antônio de Jesus (BA). A estrutura opera, hoje, com 80% de sua ocupação – quatro vezes mais do que um ano antes.

A Natulab também está expandindo sua capacidade produtiva, atualmente em 240 milhões de unidades, nas duas fábricas, também localizadas no município do interior baiano. A planta de fármacos está em obras para acomodar novo maquinário, capaz de produzir o dobro de medicamento líquido que equipamento atual produz. Nesse investimento, a farmacêutica desembolsou R$ 50 milhões.

A fábrica da parte de suplementos, de onde saem efervescentes e complexos vitamínicos, deve começar a operar novos turnos. A frente responde por uma fatia menor do faturamento da empresa, algo em torno de 20%. A Natulab pretende reativar marcas de creatina e whey protein que estavam adormecidas no portfólio da empresa.

“É um mercado competitivo. Diferente do medicamento, que só pode ser vendido com um farmacêutico, o suplemento pode ser vendido em vários canais de venda”, afirma Motta.

Com todo esse reforço de produção e ampliação de portfólio, a empresa mira em uma produção de 180 milhões a 200 milhões de unidades em 2025. A Natulab também estuda dividir as empresas em diferentes unidades de negócio e até entrar em novas categorias – como cosméticos e higiene pessoal. Também não descarta fazer aquisições ou joint ventures.

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