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5 anos da pandemia: o que mudou (e o que regrediu) na saúde nesse período


Em 11 de março de 2020, há exatos cinco anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de Covid-19. O período foi marcado por hospitais lotados, a corrida pelo desenvolvimento de vacinas, milhões de mortes no mundo e uma luta constante contra a desinformação. Mas, passados cinco anos, a saúde evoluiu?

A resposta dos especialistas é mista. Houve avanços significativos: a ciência tornou-se mais ágil, a cooperação entre cientistas se fortaleceu, e a forma de lidar com crises sanitárias evoluiu. No entanto, eles também alertam para retrocessos. O trauma da pandemia parece ter sido esquecido, tanto pela população quanto pelos órgãos públicos.

Além disso, a batalha contra o negacionismo científico e as fake news sofreu um grande revés, especialmente após a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.

Vacinação: avanços e retrocessos

A vacinação foi um dos principais fatores para conter a pandemia, segundo o superintendente de Saúde da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Andrade Lotufo. “A pandemia foi controlada pela vacinação e pelo isolamento social. Onde essas medidas foram seguidas, a mortalidade foi menor”, afirmou.

O Brasil atingiu, recentemente, o menor número de mortes por covid-19 desde 2020. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2023 foram registrados 862.680 casos, uma queda de 54,1% em relação a 2022. Na comparação com 2021, o recuo foi ainda mais expressivo, de 93,8%.

Para Eduardo Sprinz, médico do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a pandemia permitiu colocar em prática avanços na área de vacinação, com parceria entre cientistas e os setores público e privado. “O principal foi acelerar processos de pesquisa para comprovar a eficácia das vacinas. Isso foi um grande avanço”, afirmou.

Contudo, também houve retrocessos. Nos Estados Unidos, a nomeação de Robert F. Kennedy Jr., um ativista antivacinas, como Secretário de Saúde e Serviços Humanos, levantou preocupações que reverberaram em todo o planeta. Kennedy passou anos minando a confiança nos imunizantes e defendendo alegações já refutadas pela ciência. Agora, sob sua gestão, o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA abriu uma nova investigação para avaliar uma suposta relação entre vacinas e transtorno do espectro autista (TEA) – teoria amplamente desacreditada.

“Estamos vendo um enorme retrocesso impulsionado por questões ideológicas. O conhecimento epidemiológico, que é sólido e antigo, está sendo jogado no ralo”, lamentou Lotufo.

Leia mais: Antivacinas, Robert F. Kennedy Jr. é confirmado como secretário da Saúde dos EUA


O impacto da pandemia no SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) teve um papel essencial no combate à covid-19. Nos primeiros três anos da pandemia, o governo federal destinou R$ 651 bilhões para enfrentar a crise sanitária, investindo na ampliação e modernização de hospitais e unidades de atendimento, segundo dados do portal da transparência.

No entanto, especialistas apontam que boa parte dessa infraestrutura foi desmontada após o pico da pandemia. “Muitos hospitais foram modernizados para lidar com a crise, o que foi um avanço. Mas, à medida que a pandemia perdeu força, essas conquistas foram desfeitas. Então, podemos chamar isso de retrocesso? Acho que sim”, questionou Sprinz.

A revolução da telemedicina

Um dos avanços mais notáveis foi a expansão da telemedicina. O intensivista Jarbas da Silva Motta Junior, do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba, lembra que a pandemia acelerou a adoção desse modelo. “Conseguimos levar atendimento de ponta para regiões onde antes era impossível, conectando médicos de UPAs e pronto-socorros a especialistas”, explicou.

A prática foi formalizada no Brasil em 2022, com a sanção da Lei 14.510 pelo, que regulamentou a telessaúde. “Antes da pandemia, a telemedicina era praticamente inexistente no país. Hoje, apesar de alguns recuos, ainda podemos considerá-la uma conquista importante”, afirmou Motta Junior.

A persistente luta contra a desinformação


Se a covid-19 foi um desafio sanitário, a desinformação foi uma batalha paralela. No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro se tornou símbolo desse problema, ao desestimular a vacinação e propagar falas infundadas, como a célebre declaração sobre a vacina “transformar as pessoas em jacaré”.

Para Sprinz, os danos da desinformação ainda serão sentidos por anos. “Existe uma expressão: uma vez que baratas e ratos saem dos esgotos, demora para voltarem. A pandemia escancarou a presença de pessoas com pouco apreço pela ciência e pela vida”, disse.

Nos Estados Unidos, o problema se agravou com o fechamento do departamento de combate à desinformação no exterior e a retirada de investimentos na Organização Mundial da Saúde (OMS), comprometendo pesquisas globais na área da saúde.

Brasil está preparado do para uma nova pandemia?


De acordo com os especialistas, a pandemia de covid-19 trouxe aprendizados valiosos para o Estado e a população. No entanto, o desmonte de parte das estruturas criadas durante a crise e a falta de conscientização podem comprometer a resposta a futuros desafios na saúde pública.

“Basta olharmos o caso da dengue. Todo ano enfrentamos a mesma situação, mas as ações do governo em relação à imunização e prevenção ainda são limitadas, e a própria população tende a se esquecer do problema”, disse o intensivista Motta Junior. Em 2024, o Brasil registrou 6.652.053 casos prováveis de dengue e 6.022 mortes, o maior número já registrado.

Leia mais: Dengue – um ano após início da imunização, procura por vacina é baixa

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