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“Já é hora de dormir”…. Cobertores Parahyba completa 100 anos

A Cobertores Parahyba, famosa pelo icônico jingle das décadas de 1960 e 1970 “Já é hora de dormir”, completa 100 anos nesta sexta-feira (14). E que centenário! Fundada por um grupo de empresários portugueses em São José dos Campos (SP), a empresa passou por momentos históricos marcantes: sobreviveu à Grande Depressão, atravessou os períodos de superinflação no Brasil, declarou concordata e, mais recentemente, enfrentou a concorrência voraz dos produtos chineses.

O negócio, que chegou a dominar 70% do mercado nacional de cobertores e mantas, não tem mais o mesmo porte de antes. Sua antiga sede de 100 mil metros quadrados, tombada pelo patrimônio histórico em 2020, produzia até 300 mil cobertores por mês em seu auge. Hoje, a firma fabrica cerca de 50 mil produtos no mês em uma unidade de 2,5 mil metros quadrados no mesmo município. A produção também evoluiu, tornando-se mais ágil e eficiente.

“O mercado mudou. Buscamos novas alternativas e nichos para nos adaptarmos à realidade atual. Não dava mais para manter os produtos antigos, que eram mais caros e voltados para um público específico. Precisávamos nos adaptar a um mercado mais acessível. A qualidade, no entanto, se mantém”, contou Ricardo Kabbach, atual presidente da Cobertores Parahyba, que trabalha na empresa desde 1970.

A origem

Antes de chegar ao modelo atual, a Cobertores Parahyba passou por um bocado de história, que se confunde com o desenvolvimento do município paulista e do Brasil. Os europeus fundadores, que vieram ao país para instalar uma tecelagem, acabaram retornando ao Velho Continente. Com isso, um empresário chamado Olivo Gomes assumiu o controle da empresa em plena crise de 1929, expandindo a produção e tornando-a uma referência local e nacional.

“Foi a primeira indústria têxtil de São José dos Campos. Caracterizou-se como um dos marcos da industrialização na cidade, imprimindo lhe fisionomia urbana e inserindo-se intensamente na vida social, econômica e cultural do município. Em 1938, passou a contar com 1.200 funcionários, correspondendo a 8% dos 14.474 habitantes da zona urbana do município, produzindo mensalmente 170.000 cobertores e 180.000 metros de brim”, contou Tom Freitas, presidente da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, de São José dos Campos.

A historiadora Maria Helena Alves da Silva, da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), disse que a empresa fez com que novas dinâmicas sociais se desenvolvessem. “A tecelagem foi a primeira indústria de grande porte a se instalar na cidade e que oferecia trabalho tanto para homens quando para mulheres que, até então, tinham escolhas limitadas em relação à empregabilidade. Em diversos momentos, a mão de obra feminina superou a masculina na tecelagem, fazendo com que as mulheres deixassem os afazeres domésticos para se dedicarem ao trabalho na indústria”.

O auge da empresa veio nos anos 1960, quando investiu fortemente em publicidade. O icônico jingle “Já é hora de dormir”, criado pelo maestro Erlon Chaves, tornou-se um dos mais memoráveis da TV brasileira. Nessa época, a empresa exportava para a África, Estados Unidos e Europa, contando com cerca de 5 mil funcionários, segundo Kabbach. Além de São Paulo, chegou a ter unidades de produção em Pernambuco.

Turbulências

A vida de uma empresa, assim como a de uma pessoa, é feita de altos e baixos. A família Gomes, que controlava os negócios, enfrentou dificuldades financeiras nos anos 80. Um dos dirigentes da época, Severo Gomes [que foi ministro nos anos 1980 e depois senador por São Paulo], morreu no mesmo acidente aéreo que vitimou o deputado federal Ulysses Guimarães. A inflação galopante daquele período e a falta de modernização também impactaram severamente a firma.

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“Nos anos 1980, a inflação chegava a 70% ao mês. As vendas eram feitas a prazo, o que consumia todo o capital de giro. Quando a empresa tentava buscar crédito, os juros já eram insustentáveis. Isso comprometeu seriamente a operação”, lembrou Luiz Antonio Di Sessa, diretor da Cobertores Parahyba.


À esquerda, o presidente da Cobertores Parahyba, Ricardo Kabbach; à direita, o diretor Luiz Antonio Di Sessa. (Foto: Divulgação)

A firma entrou em concordata em 1983. “A família Gomes teve que entregar parte das propriedades para saldar as dívidas com os credores. Com o Governo do Estado de São Paulo, foram negociados os edifícios da Fábrica Tecelagem Parahyba, que tinha uma área de 126.250 m²”, explicou Freitas, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.


Nos anos seguintes à concordata, um grupo de funcionários tentou reerguer o negócio por meio de uma cooperativa. O atual presidente Kabbach, que mantém relações comerciais com a empresa há mais de 50 anos, passou a dar suporte à cooperativa. No entanto, a concorrência internacional e a mudança nos hábitos de consumo tornaram a luta pela sobrevivência ainda mais desafiadora. A cooperativa fechou as portas definitivamente em 2021.

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A reinvenção

Apesar dos desafios, a marca não desapareceu. Mesmo enfrentando a dura concorrência dos produtos baratos e populares da China, Kabbach, que detinha os direitos sobre marca Cobertores Parahyba, reformulou o negócio, com ajuda de Sessa e equipe. A produção foi reduzida e focada em nichos mais lucrativos, como hotelaria e hospitais. Em vez dos pesados cobertores de lã e acrílico do passado, os produtos foram modernizados, acompanhando as novas tendências do setor têxtil.

Atualmente, a Cobertores Parahyba opera de forma enxuta e adaptada à realidade do mercado. A fábrica continua em São José dos Campos, enquanto o escritório comercial fica em São Paulo. São cerca de 30 funcionárioas apenas. A empresa também investiu no e-commerce, vendendo diretamente ao consumidor final, não somente seus produtos, mas também produtos de terceiros.

Com 100 anos de história no retrovisor, a atual gestão da Cobertores Parahyba quer manter a tradição e se apoiar na força da marca e na memória afetiva dos brasileiros para continuar relevante. “Nosso foco é nos mantermos atualizados e atender às necessidades do nosso público, sempre com qualidade”, disse Sessa, que atua na empresa desde 2009.

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