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Do sufoco ao meio bilhão: a trajetória de Fabio Camara à frente da FCamara

Em 2013, a FCamara já despontava com um faturamento superior a R$ 40 milhões, mas os anos seguintes foram ainda mais transformadores para a empresa de Fabio Camara. De lá para cá, a companhia multiplicou sua receita, atingindo a marca de meio bilhão de reais em 2024. O crescimento, segundo o executivo, veio acompanhado de desafios intensos. “As dores do crescimento são implacáveis. Se você não age, elas te derrubam”, contou ele em entrevista ao programa Do Zero ao Topo, apresentado por Mariana Amaro.

Foi nesse período que ele percebeu a necessidade de reforçar a governança da empresa. Antes, centralizava tudo: era RH, financeiro, comercial e ainda programava quando podia. Reconhecendo o calcanhar de aquiles na área financeira, tentou contratar executivos — sem sucesso. Foram três diretores financeiros demitidos em sequência. “Sou austero, não tenho lancha, não tenho avião. Mas não era disso que a empresa precisava”.

A virada veio em um momento de aperto de caixa. Camara precisava de R$ 3 milhões para cobrir a folha de pagamento e enfrentou resistência dos bancos, mesmo com a empresa faturando R$ 47 milhões. Surpreendentemente, conseguiu o valor via sua gerente de conta pessoal, o que o fez perceber a fragilidade da estrutura corporativa. “Na pessoa física consegui. Na jurídica, não. Estava tudo errado”, afirma.

A partir disso, buscou reforçar a governança, associando-se a um ex-banqueiro e a um executivo com experiência em M&A (fusões e aquisições). Essa foi, segundo ele, a “segunda fase” do crescimento da FCamara. A companhia de tecnologia da informação hoje tem 1.700 profissionais e atuação internacional em países como Portugal, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Emirados Árabes e, em breve, Estados Unidos.

De olho no IPO

Com presença global e planos de aquisição nos Estados Unidos, Camara chegou a considerar abrir capital da empresa em 2024. No entanto, o cenário macroeconômico e o fechamento das janelas de IPO adiaram os planos. Mais que isso, a decisão sobre onde realizar a abertura de capital ainda está em avaliação — e o Brasil, embora desejado, não parece o destino mais provável.

“O Brasil não tem comparáveis no meu setor. Quando falo com a bolsa, me perguntam de tratores e galpões. Mas eu vendo capital intelectual”, explica. Com isso, mercados como Estados Unidos, Inglaterra e Portugal despontam como opções mais viáveis. “Hoje estou sendo paparicado. A London Stock Exchange e a Euronext me cortejam”, revela.

Apesar da indefinição sobre onde ocorrerá o IPO, Camara já tem um plano claro: elevar a fatia de faturamento em moeda forte de 15% para 60% antes da abertura de capital. E se prepara para isso: há quatro anos realiza auditorias com a KPMG e participa de roadshows pelo mundo, conversando com investidores de capital aberto.

O objetivo é ambicioso — abrir o capital como empresa âncora, capaz de inspirar outras brasileiras a seguir o mesmo caminho. “Quero ser o primeiro a aproveitar a nova janela. Para mostrar que dá certo. Mas isso ainda deve demorar. Estamos falando de 2027 ou 2028”, diz.

Lições de um ex-office boy

A história de Fabio Camara começa muito antes da FCamara. Aos 14 anos, ele trabalhava como office boy. Depois, fez freelas gravando casamentos. Também tentou empreender em outras frentes, algumas malsucedidas, antes de consolidar sua trajetória no setor de tecnologia e inovação.

Essas experiências, segundo ele, ajudaram a moldar seu estilo de liderança. Um dos principais aprendizados foi entender que uma empresa não é uma família — e que manter o profissionalismo é essencial. “Quando há pessoalidade demais, perde-se o foco. Isso vale inclusive para relações com sócios e diretores”, comenta.

Camara admite que nem sempre foi fácil tomar decisões difíceis, especialmente em relação a pessoas próximas. Mas reforça que a maturidade como líder veio justamente da capacidade de aprender com erros e de manter a clareza sobre os objetivos de longo prazo da empresa.

E é com essa perspectiva — firme e pragmática — que ele pretende conduzir a FCamara rumo ao IPO, com escala global e foco em valor de mercado. “Ainda tenho muito que construir. Mas estou ganhando musculatura para isso”, destaca.

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