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Merz assume como chanceler de uma Alemanha desacreditada e em crise

Friedrich Merz assume nesta terça-feira (6) como novo chanceler da Alemanha, em substituição a Olaf Scholz, que foi obrigado a antecipar as eleições parlamentares do país após sua coalizão ruir no final do ano passado, em meio a uma forte crise econômica, ascensão do políticos de direita e dúvidas sobre o tamanho do apoio a ser dado à Ucrânia contra a invasão pela Rússia.

O conservador Merz chegou ao poder após seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU) e o aliado bávaro, o União Social Cristã (CSU), terem obtido uma vitória apertada nas eleições de fevereiro.

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Nas últimas semanas, foi costurado um acordo amplo, num documento de 144 páginas, com os social-democratas do SPD, para formar uma nova coalizão, apelidada de preto e vermelha pelas cores das agremiações envolvidas.

Mas esse acerto se deu numa base muito tênue – as duas forças políticas têm juntas 328 assentos no Parlamento, pouco acima da maioria necessária de 316 cadeiras –, uma vez que as posições mais firmes de Merz contra os imigrantes desagradam a facção mais à esquerda do SPD.

Os dois lados tiveram que ceder um pouco para fechar o acordo, fustigado pelo forte apoio que a direita radical representada pelo partido AfD teve na disputa – o Alternativa para a Alemanha conquistou um recorde de 152 cadeiras. Além das visões nacionalistas do novo 1º ministro, os social-democratas tiveram de engolir a indicação do jornalista conservador Wolfram Weimer como novo ministro da Cultura. Por outro lado, conseguiram manter Boris Pistorius como ministro da Defesa, um ferrenho defensor da Ucrânia.

Economia enfraquecida

Além do xadrez político, o novo chanceler vai precisar enfrentar o mau momento econômico e projeções de lenta recuperação. “As tensões geopolíticas e a política comercial protecionista dos EUA estão exacerbando a já tensa situação econômica na Alemanha”, disse Torsten Schmidt, chefe de pesquisa econômica do instituto de pesquisas econômicas de Leibniz.

“Além disso, as empresas alemãs estão enfrentando uma concorrência internacional crescente – especialmente da China. Por último, mas não menos importante, as fragilidades estruturais, como a escassez de mão-de-obra qualificada e os elevados obstáculos burocráticos, estão pesando sobre o crescimento”, completou.

Em seus relatórios de primavera, os principais institutos de pesquisa econômica preveem um aumento no produto interno bruto de apenas 0,1% em 2025. Para 2026, os institutos esperam que o PIB aumente 1,3%

As estimativas são de que as tarifas dos EUA sobre as importações de alumínio, aço e veículos provavelmente reduzirão o crescimento do PIB do país neste ano e no próximo em 0,1 ponto percentual cada. E as tarifas adicionais anunciadas em 2 de abril de 2025 podem dobrar os efeitos negativos.

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No entanto, os efeitos específicos são difíceis de quantificar, disse o think tank Kiel, uma vez que as tarifas aduaneiras nunca foram aumentadas de forma tão acentuada na atual economia globalizada.

Enquanto isso, a situação no mercado de trabalho deteriorou-se sensivelmente. Desde meados de 2022, o número de desempregados aumentou 20%. Isso equivale a mais de 450.000 pessoas. A taxa de desemprego aumentou de 5,4% para 6,3%, com perdas de postos de trabalho principalmente na indústria de transformação, na construção e nos serviços às empresas. Não se espera que o desemprego volte a cair até que a situação econômica melhore ao longo de 2026.

O novo governo já anunciou que pretende afrouxar as restrições fiscais para a Defesa e para os gastos em nível estadual, ao mesmo tempo em que vai estabelecer um fundo de investimento em infraestrutura de € 500 bilhões. Para o próximo ano, os institutos esperam gastos adicionais de cerca de 24 bilhões de euros, combinados com um impulso de expansão de cerca de 0,5 ponto percentual para o produto interno bruto.

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Segundo o instituto Kiel, a Alemanha não está apenas sofrendo de uma economia fraca, mas acima de tudo tem problemas estruturais. “Isso não pode ser resolvido simplesmente aumentando os gastos do governo e tornando as reformas para aumentar a produção potencial ainda mais urgentes. Por exemplo, o sistema de segurança social precisa de ser adaptado às alterações demográficas, de modo a que os custos não salariais do trabalho não continuem a aumentar acentuadamente.”

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