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ETFs “de guerra” acumulam alta de até 78% em um ano com escalada de tensões globais

Imagem ilustrativa de cabo de guerra mostrando um impasse (Foto: Pexels)

Em tempos de conflito, os mercados de renda variável geralmente reagem com cautela por causa do aumento da incerteza global. Nesses períodos, investidores costumam buscar refúgio em ativos considerados seguros, como ouro e dólar. Ainda assim, um segmento específico costuma apresentar desempenho positivo em meio ao caos: o setor de defesa e aeroespacial.

Os fundos de índice que acompanham empresas da área – popularmente apelidados de “ETFs de guerra” – refletem esse movimento. Alguns dos principais ETFs globais ligados ao setor registraram alta de até 78% no acumulado do ano. Para efeito de comparação, o índice S&P 500 subiu 12% no mesmo período, enquanto o ouro avançou 44,10%, segundo dados da plataforma TradingView.

Para Arthur Barbosa, analista da Aware Investments, a valorização de produtos ligados ao setor está relacionada às expectativas de aumento nos orçamentos militares em resposta às tensões geopolíticas, que estimula a demanda por produtos e serviços das companhias de defesa e aeroespacial, elevando suas projeções financeiras e, consequentemente, o valor de suas ações e dos fundos que as acompanham.

”O aumento estrutural dos orçamentos de defesa em diversas regiões do mundo, somado à previsibilidade de receitas proporcionada pelos contratos governamentais, pode favorecer o desempenho do setor no longo prazo’’, falou o especialista. 

Super orçamento

Diante de um cenário internacional ainda tensionado, com Rússia e Ucrânia de um lado e instabilidade no Oriente Médio do outro, no início desta semana os 32 países-membros da Otan anunciaram um plano para elevar os gastos com defesa para 5% do PIB até 2035, em resposta ao que classificam como ameaça de longo prazo representada pela Rússia e à persistência do terrorismo.

E não são só os governos que estão esticando os investimentos na área. Um relatório da PwC divulgado neste mês apontou que os investimentos globais em defesa estão a caminho de atingir recordes históricos. Um sinal disso é o crescimento do capital de risco destinado a startups do setor, que em 2024 já superou os US$ 2,2 bilhões investidos em todo o ano anterior – na contramão da queda de aportes em outros segmentos de tecnologia.

As grandes empresas do setor também refletem esse aquecimento. As seis maiores companhias de defesa dos Estados Unidos registraram alta de 4% na receita ano passado, enquanto o volume de encomendas em carteira (backlog) cresceu 9%, atingindo o recorde de US$ 530 bilhões, segundo a PwC. Na Europa, as cinco maiores do setor tiveram avanço de 13% na receita, embora o lucro líquido tenha recuado 2% no mesmo período.

Vale investir nos ETFs de guerra?

ETFs temáticos, como os de guerra, podem ser uma forma de se expor a tendências globais estruturais, segundo Cauê Mançanares, CEO da Investo. Ele falou que a praticidade, transparência e diversificação são alguns dos pontos fortes desses produtos.

”Embora esses ETFs possam apresentar maior volatilidade por estarem expostos a eventos geopolíticos e ciclos orçamentários específicos, eles também oferecem oportunidades para investidores com perfil mais dinâmico e visão de longo prazo, interessados em capturar movimentos estruturais da economia global’’.

Ainda assim, segundo Barbosa, da Aware Investments, esses ETFs são mais indicados para investidores arrojados, que estejam dispostos a tolerar oscilações em períodos de tensões geopolíticas. ”Para perfis conservadores ou para aqueles com preocupações ESG, os ativos podem não ser adequados’.

Ele lembrou que o segmento apresenta volatilidade semelhante à do mercado. Disse ainda que, se por um lado as receitas tendem a ser mais previsíveis devido à presença de contratos públicos, o que pode suavizar as oscilações, por outro esses ativos estão sujeitos a fortes variações quando ocorrem mudanças abruptas no cenário geopolítico.

Veja alguns dos principais ETFs de guerra do mercado:

ETF Bolsa Valorização em 2025
Direxion Daily Aerospace & Defense 3× Bull (DFEN) NYSE Arca 78,47%
VanEck Defense UCITS ETF (DFNS) LSE / Xetra / Borsa Italiana 64,57%
SPDR S&P Aerospace & Defense ETF (XAR) NYSE Arca 42,55%
iShares U.S. Aerospace & Defense ETF (ITA) NYSE Arca 37,80%
First Trust Nasdaq Cybersecurity ETF (CIBR) Nasdaq 35,28%
Rize Cybersecurity and Data Privacy UCITS ETF (CYBR) LSE / Xetra 32,69%
Invesco Aerospace & Defense ETF (PPA) NYSE Arca 32,30%
SPDR Kensho Future Security ETF (FITE) NYSE Arca 31,27%
iShares Digital Security UCITS ETF (LOCK) LSE / Xetra 15,36%
L&G Cyber Security UCITS ETF (ISPY) LSE / Xetra -4,23%

Riscos e dilemas éticos

Os ETFs também são arriscados. O principal, segundo Barbosa, é a concentração. ”Embora os fundos sejam diversificados entre diferentes empresas, eles permanecem restritos a poucos setores cujos ativos apresentam alta correlação entre si’’. 

O desempenho dos ativos também pode ser afetado por mudanças em regulações armamentistas e leis de exportação, disse o especialista. No âmbito político, falou, eles estão sujeitos a alterações de governo ou modificações nos gastos públicos com armamento. 

Tem também, de acordo com Barbosa, a questão ética. ”O setor é frequentemente alvo de debates sobre impactos humanitários, o que pode afastar investidores com critérios ESG’’. 

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