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Termômetro do Seguro: o que a alta nas adesões do setor mostra sobre a economia?

O comportamento do setor de seguros pode trazer insights sobre o cenário econômico, segundo especialistas consultados pelo InfoMoney, que apontam para o aquecimento no mercado de trabalho, inflação e juros como marcadores relevantes.

O relatório do “Relatório Global de Seguros”, do Grupo Allianz, compartilhado em exclusividade ao InfoMoney mostrou que, em 2024, a receita total de prêmios cresceu 11,1% ano contra ano no Brasil, para 44,5 bilhões de euros, ou quase R$ 290 bilhões. O país é o maior mercado da América Latina e concentra um terço de todos os prêmios emitidos.

Todos os segmentos contribuíram para esse desenvolvimento positivo. Enquanto o mercado de seguros de vida cresceu 15,8%, o setor de Propriedade e Acidentes (P&C) cresceu 7,8% e o seguro saúde, 13,9%.

Ainda que parte desse crescimento seja causado pelo aumento de preços das apólices, houve ganho real de receita pelas seguradoras, suportado pelo aquecimento do mercado de trabalho e da renda da população brasileira e ao aumento da demanda por produtos de seguros em meio às mudanças climáticas.

“O crescimento econômico é o principal motor da demanda por seguros – é um ciclo virtuoso: o aumento da renda permite que famílias e empresas comprem seguros, o que as torna mais propensas a assumir riscos, ou seja, a investir em novos projetos e tecnologias – o que impulsiona ainda mais o crescimento”, explicou Arne Holzhausen, Head de Pesquisa de Patrimônio, Seguros e ESG do Grupo Allianz, ao InfoMoney.

Em 2024, foram criadas mais de 1,6 milhão de vagas de emprego formais no país, primeiro aumento desde 2021. Enquanto isso, o rendimento mensal real domiciliar per capita cresceu 4,7% no ano passado em relação a 2023, para R$ 2.020. Já o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 3,4% em 2024.

Além disso, 2024 foi um ano marcado por catástrofes naturais. Segundo a ONU, o Brasil registrou dez eventos climáticos naturais, sendo três deles classificados como sem precedentes: chuvas no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia e uma onda de calor no Centro-Oeste. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu 3.620 alertas de desastres em 2024, o maior número da série histórica, iniciada em 2011.

“Os riscos estão aumentando – sejam catástrofes naturais ou cibernéticas – impulsionando a demanda por mais proteção”, explica Holzhausen, que destaca ainda os níveis sem precedentes de incerteza da economia global, que aumentam a demanda por parte das empresas por soluções de gestão de risco, ainda que pesem sobre os volumes de seguros devido ao crescimento econômico mais fraco, desaceleração do comércio e maiores riscos de crédito e de mercado.

A receita de prêmios de seguros no mundo em 2024 cresceu 8%, para 7 trilhões de euros, algo em torno de R$ 44,5 trilhões, segundo a Allianz Global.

Desaceleração em 2025

Mas o aquecimento da economia brasileira em 2024 é só uma parte da história, já que veio acompanhada de uma inflação de 4,83% no ano e uma taxa de juros básica, a Selic, que bateu em 12,25%, corroendo o poder de compra e encarecendo o acesso ao crédito da população.

Hoje, com uma inflação anual de 5,32% e uma Selic de 14,75%, a desaceleração econômica do país em 2025 já é sentida pelo setor de seguros.

Segundo Gabriel Ronacher, CEO da plataforma especializada em software para o segmento de seguros Agger, a companhia registrou uma diminuição de 5% de apólices de seguro para carros de até R$ 80 mil reais na tabela Fipe – um sintoma de que a classe C está tendo que remanejar gastos, abrindo mão de despesas consideradas discricionárias, como o seguro.

A mesma impressão foi compartilhada por Carlos Eduardo Biagioni, head de soluções patrimoniais da Monte Bravo, que oferece seguro de vida aos seus clientes como forma de proteção ao patrimônio em eventual “passagem de bastão”.

“No ano passado, batemos um recorde R$ 60 milhões em prêmios. Esperávamos manter esse ritmo. Acredito que marcadores importantes são a inflação e a consequente taxa de juros, que permanece alta. Entendemos que nossos clientes estão aproveitando o retorno elevado da renda fixa”, disse.

Segundo o último Boletim Focus, o mercado espera que inflação do Brasil feche 2025 em 5,44%, a Selic, em 14,75%, e o PIB, em alta de 2,18%.

Arne Holzhausen, Head de Pesquisa de Patrimônio, Seguros e ESG do Grupo Allianz, reafirma a expectativa de desaceleração da economia brasileira, com impacto nas receitas das seguradoras.

“O crescimento no Brasil deve desacelerar este ano. Mas, de modo geral, somos otimistas em relação à economia brasileira, esperando um crescimento estável no longo prazo. Isso ajudará o mercado de seguros a crescer ainda mais e famílias e empresas a gastar mais em proteção contra riscos (…) Apesar da perspectiva econômica um pouco mais fraca, esperamos que o mercado de seguros brasileiro permaneça em boa forma, com crescimento robusto em todas as linhas, ou seja, 12% em saúde, 9,5% em P&C e 12,7% em Vida”, complementou.

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