
A inteligência artificial (IA) tem sido vista por muitos como uma ameaça ao mercado de trabalho, mas gestores e especialistas do setor financeiro e corporativo afirmam que a tecnologia não substitui profissionais, e sim potencializa a produtividade e a qualidade dos serviços, especialmente por meio da personalização.
Para Guilherme Assis, CEO da fintech Gorila, que desenvolveu um modelo de IA generativa para assessores de investimentos, a tecnologia permite que os profissionais tenham acesso a dados estruturados e insights que facilitam a tomada de decisão. “Com a IA, assessores e consultores podem organizar suas tarefas diárias e pedir respostas baseadas na condição atual das carteiras dos clientes, gerando análises mais precisas e personalizadas”, explica.
A Gorila, que consolida diariamente cerca de 2 milhões de portfólios com mais de R$ 250 bilhões em patrimônio, aposta na integração da IA para transformar dados em valor real para o mercado. “Com a IA estamos alcançando uma hiperpersonalização na prestação de serviço que não era possível – com simplificação de linguagem, elaboração rápida de resumos e apresentações. O uso dessa tecnologia abre uma avenida gigantesca”, diz Assis.
No setor de viagens corporativas, a empresa especializada VOLL lançou o Smart Hub, um marketplace de agentes de IA que automatizam e otimizam a gestão de viagens, reduzindo custos e aumentando a eficiência. Entre os agentes estão o AirSave, que monitora tarifas aéreas em tempo real para garantir opções mais econômicas, o RatesAudit, que assegura o cumprimento de tarifas negociadas em hospedagem, e o ExpenseAudit, que controla e audita despesas corporativas.
Luiz Moura, cofundador e Diretor de Negócios da VOLL, reforça que as ferramentas de IA lançadas pela empresa têm como objetivo principal liberar os gestores de viagens corporativas das tarefas operacionais, manuais e repetitivas. “Os agentes de IA funcionam como uma ‘armadura de super-herói’, multiplicando o poder desses profissionais para que possam focar em estratégias de redução de custos, aumento de eficiência e melhoria da experiência dos viajantes”, afirma.
Moura também é categórico sobre a possibilidade de substituição dos agentes de viagens por IA: “Não há perspectiva de substituir esses profissionais. O valor deles é gigante para as empresas. Sem a experiência técnica e operacional dos gestores, as empresas perderiam eficiência nas compras e na governança das viagens e despesas. Os agentes de IA foram desenvolvidos para multiplicar esse poder, tornando a atuação dos gestores ainda mais necessária.”
Além das soluções tecnológicas, a visão de Daniel Spolaor, CEO da Koru e especialista em gestão de pessoas, reforça que a adoção da IA depende da vontade humana e da capacidade de adaptação. Ele lembra que, historicamente, a evolução tecnológica não extinguiu empregos, mas os transformou, criando novas oportunidades. “Na prática, gerou-se mais emprego (…) Agora a IA vai evoluir e fazer muito mais, mas muitas funções valorizam o toque humano, e a substituição é uma escolha social”, afirma.
“Já fui a pessoa que definia alguns movimentos organizacionais [como cortes]. Quando a gente fala de otimização, ela não caminha sem qualificação junto. Você não consegue fazer um grande movimento de corte de pessoas sem investir em uma outra ponta. É uma cadeira de três pernas: eu ganho eficiência, mas preciso de conhecimento e tecnologia junto. E a gente já tem os casos no mundo em que esse movimento próprio, na verdade, gera mais emprego”, pontua.
Os dados da segunda pesquisa anual “Impacto da IA no Local de Trabalho”, divulgada em abril de 2025 pela provedora de software de apresentações Beautiful.ai, corroboram essa visão mais otimista. O estudo mostra que a IA é cada vez mais vista como uma ferramenta para aumentar a produtividade dos funcionários, e não para substituí-los.
Segundo o relatório, 54% dos gerentes afirmam que não querem substituir funcionários por ferramentas de IA, um aumento de 15 pontos percentuais em relação ao ano anterior (39%).
Além disso, o relatório ressalta que, conforme os gestores se familiarizam com a inteligência artificial, o foco desloca-se da simples redução de pessoal para o aprimoramento das atividades já existentes. Atualmente, 63% dos gestores não acreditam que a IA possa substituir completamente os funcionários sob sua gestão, representando um aumento de 20 pontos percentuais em relação à pesquisa de 2024, quando esse índice era de 43%.
“Por enquanto”
Apesar do otimismo dos gestores, um relatório divulgado em janeiro de 2025 pelo Fórum Econômico Mundial revelou que 41% desejam implementar a IA para substituir pessoas.
Por outro lado, o mesmo estudo mostrou que a maioria dos empregadores (77%) pretende requalificar e aprimorar sua força de trabalho para trabalhar melhor com a IA, enquanto 47% planejam transferir funcionários afetados para outras funções dentro da organização.
Outras estratégias apontadas pelos empregadores incluíram a contratação de novos profissionais com habilidades para desenvolver e trabalhar com IA (69% e 62%, respectivamente) e a reorientação das organizações para explorar novas oportunidades de negócios criadas pela tecnologia (49%).
Spolaor finaliza dizendo que, para que o mercado de trabalho se adapte e cresça, a otimização promovida pela IA deve ser acompanhada de investimentos tanto do ponto de vista individual, isto é, o trabalhador proativamente se qualificar, quanto corporativo, com as empresas criando as condições para a qualificação dos seus colaboradores. “O grande ponto é como que a gente vai fazer essa transição. A gente não pode demorar. A tecnologia avança em uma velocidade muito grande”, afirma.
“A IA tem um poder educacional e de síntese muito grande. Usando o nosso negócio como exemplo, que é voltado para assessores, ela permite que o profissional de investimento dedique tempo para as conexões – afinal, é ele que conhece o cliente e assunto. Então, num futuro visível, vejo muito um potencial de uso da IA por seres humanos. Os escritórios estão muito interessados também, porque traz uma diferenciação do trabalho em relação aos concorrentes. Mas quem não usar vai ficar para trás”, complementa Assis.
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