Pular para o conteúdo principal

Política habitacional deve ajudar vendas no médio padrão, mas não fará milagre

Chaves de um imóvel; aluguel

O mercado imobiliário de médio padrão, que atrai famílias com renda mensal entre R$ 12 mil e R$ 20 mil, tem mostrado resiliência ao longo de 2025, mesmo em um cenário de juros elevados, crédito restrito e funding mais caro – dores que a nova política habitacional anunciada pelo governo federal deve remediar, mas não curar, segundo opiniões colhidas pelo InfoMoney.

O programa, anunciado pelo governo federal na última sexta (10), prevê ajustes no direcionamento dos recursos da poupança, ampliação do teto dos financiamentos feitos no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões e o retorno do financiamento pela Caixa Econômica Federal de até 80% do valor do imóvel, o que pode facilitar o acesso ao crédito para parte da classe média.

Para o presidente da Abrainc, Luiz França, a melhora gradual da economia e a nova política de crédito contribuirão com o fôlego do médio padrão. “O crédito imobiliário tem papel crucial para o desenvolvimento do segmento de médio padrão. É fundamental termos um modelo que garanta estabilidade e juros acessíveis”, afirma.

França também destaca o potencial de inclusão gerado pela fixação do teto do juros do financiamento em 12%. Hoje, as taxas estão em 13%, em média. “Cada ponto percentual reduzido nos juros inclui mais 160 mil famílias, então acredito que teremos sim um aumento de demanda.”

Ainda assim, especialistas ponderam que o efeito será limitado, devido ao custo do crédito. A expectativa do mercado é que a Selic, taxa de juros referência do país e que afeta diretamente o juros do crédito imobiliário, hoje em 15%, caia para 12,25% até o 2026, um patamar menos desconfortável para o setor, mas ainda considerado elevado.

Segundo Pedro Arsenian, gerente de Real Estate na SOLD Leilões, a dependência de financiamento é o que diferencia a classe média das faixas mais altas do mercado.

“Enquanto o público de alta renda costuma comprar à vista ou com entradas substanciais, a classe média alta depende fortemente do crédito imobiliário. Mesmo um imóvel de R$ 800 mil a R$ 1,2 milhão exige financiamentos longos, e as parcelas ficam sensíveis à Selic – por isso uma nova linha de crédito é bem-vinda”, afirma.

“O segmento de média renda seguirá enfrentando desafios pela frente. A taxa de juros do financiamento imobiliário está mais alta e não há disponibilidade de funding suficiente. Essa iniciativa do governo é positiva, mas o impacto deve ser mais de preservação de recursos do que de transformação”, avalia Ygor Altero, head do setor imobiliário do Research da XP.

O 2025 do médio padrão

Não existe um relatório específico que trate apenas de imóveis do médio padrão, mas alguns levantamentos regionais podem ser usados para mostrar a temperatura da demanda do segmento.

Dados da Pesquisa do Mercado Imobiliário do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis de São Paulo) mostram que as vendas dos lançamentos de classe média da cidade de São Paulo seguiram acontecendo neste ano, mas sofreram mais que as outras faixas.

Em agosto de 2024 as vendas sobre a oferta (VSO) – indicador que mostra o percentual de unidades vendidas em relação ao total disponibilizado para comercialização – foram de 9,4% para imóveis de R$ 700 mil a R$ 1,4 milhão e 6% para imóveis de R$ 1,4 milhão a R$ 2,1 milhões. Já em agosto de 2025 o VSO dessas faixas caiu para 7,4% e 4,9%, respectivamente – em comparação com o VSO de 14,2% da faixa de até R$ 264 mil, 10,5% da faixa de R$ 264 mil a R$ 350 mil, 10,9% da faixa de R$ 350 mil a R$ 700 mil e de 8,2% da faixa de imóveis acima de R$ 2,1 milhões.

Imóveis de alto padrão

Enquanto o médio padrão enfrenta restrições, o mercado de alto padrão e luxo continua em ritmo firme, impulsionado por compradores que dependem pouco de financiamentos.

A avaliação foi compartilhada por Claudio Carvalho, CEO da incorporadora de luxo AW Realty, em encontro recente com o InfoMoney. “O mercado de luxo segue aquecido. Esse público tem um funcionamento particular. Não depende de financiamento. Nossas vendas seguem aquecidas e eu, otimista”.

A AW Realty, que lançou R$ 1 bilhão em Valor Geral de Vendas em 2025, pretende aumentar o indicador em 15% no ano que vem.

“Projetos exclusivos e bem localizados continuam vendendo, mesmo com juros altos. Esse comprador muitas vezes paga à vista e decide com base em desejo e localização, não em cálculo financeiro”, finaliza Altero, da XP.

The post Política habitacional deve ajudar vendas no médio padrão, mas não fará milagre appeared first on InfoMoney.



source https://www.infomoney.com.br/business/politica-habitacional-deve-ajudar-vendas-no-medio-padrao-mas-nao-fara-milagre/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Após fim do EMBI+, novo indicador desponta como alternativa para medir risco

Qual o melhor termômetro para medir a volatilidade e os riscos de investir no Brasil (e em outros países)? Um bom caminho usado até meados do mês de 2024 era o Embi+, calculado pelo JPMorgan. Esta era a sigla para Emerging Markets Bond Index Plus, que significa Índice de Títulos de Mercados Emergentes Mais, basicamente medindo o desempenho de títulos públicos de economias emergentes. O índice auxiliava os investidores na compreensão do risco de investir em determinado país. Quanto mais alto fosse, maior seria o risco. A unidade de medida usada era ponto-base, trazendo a diferença entre a taxa de retorno dos títulos de países emergentes e a oferecida por títulos emitidos pelo Tesouro americano. A diferença constituía o spread, sendo essencialmente o Country Risk Premium, ou o Prêmio de Risco País. Contudo, o índice foi descontinuado em julho de 2024, fazendo com que o mercado perdesse uma boa referência sobre investimentos nos países emergentes. Uma alternativa a ser pensada num pr...

Dow Jones Futuro cai com temor de recessão e expectativa por decisão de juros nos EUA

Dow Jones Futuro recua com temor de recessão e expectativa por decisão de juros nos EUA Os índices futuros dos EUA operam em baixa nesta segunda-feira (17), com investidores à espera da decisão do Federal Open Market Committee (FOMC), que se reúne nesta semana. A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed) mantenha a taxa de juros no intervalo atual, entre 4,25% e 4,50%. No entanto, o mercado já precifica um possível início do ciclo de cortes a partir da reunião de 18 de junho. Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, há uma probabilidade de 57,7% para um corte de 25 pontos-base nessa data, com projeção de pelo menos mais um ajuste da mesma magnitude até o fim do ano. Também pesa sobre o mercado o comentário feito pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent , no domingo sobre não haver “nenhuma garantia” de que a maior economia do mundo evitará a recessão, apenas uma semana após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter se recusado a descartar uma possibilidade. Estados Un...

Nova tabela progressiva do IR atualiza faixa de isenção da PLR; veja o que muda

Com a atualização da base da tabela progressiva para o Imposto de Renda, a Receita Federal também ajustou a tributação para quem ganha a Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) das empresas. Em fevereiro, o governo federal aumentou a primeira faixa da tabela progressiva do IR para o ano que vem, que subiu dos atuais R$ 2.640 para R$ 2.824 — o dobro do salário-mínimo em vigor em 2024 (R$ 1.412). Depois, através de uma instrução normativa, atualizou também a primeira faixa da tabela para PLRs. A mudança está válida desde fevereiro deste ano e passa a impactar os valores informados na declaração de IR 2025. A PLR é um valor pago de “bônus” aos profissionais e fica retida na fonte, ou seja, é tributada antes de cair na conta do beneficiado. A faixa de isenção atual da PLR é de R$ 7.404,11 e passará a ser de R$ 7.640,80. As outras faixas de tributação permanecem iguais. Veja a tabela válida para o IR 2025: Valor do PLR anual (em R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do impos...