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“Conselho Trader” expõe os erros que impedem Bertuzzo de avançar no day trade

Parecia uma sessão de mentoria de alto nível — até que as primeiras perguntas transformaram o estúdio em uma verdadeira sala de diagnóstico. No centro do palco, o trader André Bertuzzo expõe sua dor mais profunda enquanto cinco especialistas o analisam com precisão clínica. Não é entretenimento. É um raio-X completo do que trava a performance de milhares de traders.

Essa dinâmica marca a segunda parte do 1º episódio de O Conselho Trader, novo programa do canal GainCast, que reúne Aliakyn Pereira de Sá, Márcio Kieling, Marcelo Carvalho, Mari Damaceno e Marcielli Mota para esmiuçar, ao vivo, o operacional de um trader real — suas decisões, seus números, seus vícios e seus pontos cegos.

Logo na abertura, Bertuzzo entrega o conflito e a dor que o acompanha há meses. “Eu diria que é romper a linha d’água. Eu já consigo identificar tudo o que me faz mal, só que também não consigo ter um resultado positivo e expressivo”, afirma.

A partir desse ponto, o programa assume contornos de um Shark Tank do trading, com cada conselheiro atacando uma frente — técnica, gestão de risco, comportamento e estatística.

O resultado é uma aula ao vivo, mas também um espelho incômodo para qualquer trader que já se viu próximo da consistência, porém preso em decisões contraditórias, excesso de variáveis e hesitação operacional.

Os cinco conselheiros. Aliakyn Pereira de Sá, Mari Damaceno, Márcio Kieling, Marcielli Mota e Marcelo Carvalho – O Conselho Trader, segunda parte do 1° episódio (Imagem Reprodução YouTube)

O caso

Ao detalhar sua trajetória, Bertuzzo expõe uma evolução relevante — tempo de tela, validação estatística, replays diários, múltiplos setups. Mas é justamente aí que mora o problema. O influencer e trader Márcio Kieling enxerga o primeiro sinal de alerta. “Eu acredito que o problema dele é alguma coisa com emocional”, alerta.

A partir disso, a bancada passa a desmontar as camadas de decisão. A psicanalista e trader Marcielli Mota é incisiva. “Você sempre vai patinando em algum comportamento que te impede de avançar”, observa. A analista e trader Mari Damaceno pressiona o ponto-chave. “Você tá com medo do risco?”, questiona.

Bertuzzo tenta afastar essa hipótese. “Hoje eu enxergo o risco como ingresso para entrar no trade”, explica. Mas admite o peso psicológico acumulado após dificuldades empresariais e financeiras recentes: “A hora que eu me exponho a mais risco, vem aquela vozinha da escassez”, conclui.

Do lado técnico, uma questão salta aos olhos: o excesso de setups e a divisão da atenção entre dois ativos. O analista Aliakyn Pereira enquadra o dilema com clareza empresarial. “Você como empresário coloca limite de vendas para sua empresa?”, questiona.

A multiplicidade de estratégias e ativos, somada a limites de número de operações diárias, cria um ambiente operacional com ruído, dispersão e baixa eficiência estatística.

Técnica é só 30%”: como um trader virou o jogo após perder o controle

Conheça a história de André Bertuzzo

Ao final, todos os conselheiros chegam à mesma percepção: Bertuzzo tem conhecimento, método e disciplina, mas carrega camadas de comportamento, regras conflitantes e decisões que sabotam sua curva de resultados.

André Bertuzzo – O Conselho Trader, segunda parte do 1° episódio (Imagem Reprodução YouTube)

O diagnóstico

O bloco do diagnóstico estabelece um consenso raro entre especialistas de perfis diferentes — e o veredicto sobre o caso Bertuzzo é direto, técnico e incômodo.

Aliakyn abre com precisão. “Ele ainda não encontrou a principal estratégia dele”, afirma. Para ele, o caminho passa por uma auditoria fria dos setups e pela especialização radical no que realmente entrega margem — sem gosto pessoal, sem apego, sem romantização.

Já Mari Damaceno amplia o raciocínio e traz uma das frases mais fortes do episódio. “O último grau da perfeição não é quando a gente consegue acrescentar mais, é quando a gente não consegue tirar mais”, explica. Para ela, Bertuzzo está preso em um labirinto de variáveis — ativos, filtros, setups, janelas operacionais e regras internas — que inviabilizam a consistência.

Em seguida, Marci Mota vai além da técnica e expõe o componente emocional oculto. “Você ainda não se enxerga como um operador da bolsa de valores”, afirma. O excesso de salas, vozes, referências e fragmentos de metodologias diferentes cria um “trader Frankenstein”, como o próprio Bertuzzo reconhece.

O trader e influencer Marcelo Carvalho reforça o ponto da objetividade. “Menos é mais e o simples funciona”, observa. Para ele, filtros demais e subjetividade nas saídas destroem o payoff — e sem payoff, taxa de acerto não sustenta consistência.

Por fim, Márcio Kieling traz a leitura prática. “Você não encontrou o seu perfil operacional”, afirma. E isso se manifesta em tudo — do risco inconsistente aos ativos conflitantes, passando por metas rígidas que não conversam com o comportamento real das operações.

O consenso é duro, mas cristalino: Bertuzzo está muito perto, mas preso ao “limbo do quase”.

O plano de ação

Depois de desconstruir cada camada do operacional de André Bertuzzo, os conselheiros convergem para um plano de ação direto e pragmático — um caminho que exige menos ferramentas, menos variáveis e mais profundidade. O ponto de partida é a auditoria completa dos setups.

Para Aliakyn, Bertuzzo precisa identificar com frieza qual estratégia realmente entrega retorno, independentemente de preferência pessoal. “Não tem a ver com gostar da estratégia, tem a ver com ver dinheiro no final do dia”, afirma. A partir daí, o trader deve concentrar toda a energia no setup vencedor, adotando o princípio da especialização radical.

Em seguida, Mari Damaceno reforça que o avanço virá não ao adicionar, mas ao remover elementos. Ela aponta que a multiplicidade de ativos cria ruído, dispersa atenção e impede a construção de uma curva limpa.  

Para ela, Bertuzzo precisa assumir uma escolha — um ativo, um operacional, uma métrica de risco — e sustentar essa decisão pelo tempo suficiente para medir resultados reais. Isso exige aprender a dizer não: às influências externas e aos modelos alheios. “Liberdade tem muito mais a ver com o que a gente falar não, do que com o que a gente falar sim”, conclui.

Identidade operacional e payoff

Nesse ponto, entra a dimensão emocional. Marci Mota acrescenta a peça que faltava ao afirmar que Bertuzzo precisa se enxergar como trader, e não como aluno eterno. “Validar o seu operacional sendo de fato um operador da bolsa de valores”, orienta.  Para isso, eliminar salas, vozes e dependências torna-se essencial: só assim ele conseguirá executar o “jeito Bertuzzo de operar” com responsabilidade e convicção.

Marcelo Carvalho reforça que essa reconstrução exige objetividade extrema — entradas claras, risco fixo e saídas coerentes, sem filtros subjetivos que sabotam o payoff. E esse payoff, segundo todos os conselheiros, precisa ser reequilibrado: os dias bons devem financiar toda a curva, e não apenas manter o trader no empate. Como resume Aliakyn. “No dia bom, você tem que arrancar o couro do mercado”, conclui.

Assim, o plano de ação proposto pelo Conselho Trader não é apenas técnico, mas estrutural. Envolve especialização, disciplina, objetividade e coragem para sustentar decisões difíceis. Bertuzzo já superou a etapa da sobrevivência, agora precisa consolidar uma identidade operacional única e permitir que os resultados reflitam, finalmente, a consistência que ele já tem condições de alcançar.

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