‘Quebrar’ uma vez já é bastante traumático para quem empreende. O empreendedor e investidor Felipe Titto quebrou sete vezes. Do seu oitavo negócio, que finalmente conseguiu escalar, Titto construiu um pequeno império e, hoje, lidera uma holding com 11 operações em setores variados.
Antes de empreender, contudo, ele atuava como ator, uma profissão que o ensinou muito sobre vender a própria imagem. “Eu quebrei sete empresas antes de fazer a primeira dar certo. Quando a oitava acelerou, comecei a entender o valor da minha imagem como ativo para negócios”, contou Felipe, em uma conversa exclusiva com InfoMoney Entrevista, durante o Sankhya Connection de 2025.
Ele falou com a reportagem sobre a transição para o mundo dos negócios, como construir empresas sustentáveis e as diferenças entre ser empresário. Confira abaixo, trechos da entrevista com Felipe Titto.
InfoMoney: Você começou a sua carreira como ator e se transformou em um empreendedor serial. Como essa transição aconteceu?
Felipe Titto: Parece que existe uma distância enorme do artista para o empreendedor, mas a verdade é que é, basicamente, a mesma coisa. Os dois lidam com o público o tempo inteiro. São dois vendedores. No caso, eu vendi a minha imagem a vida inteira, seja para bons contratos de publicidade ou para bons contratos de teledramaturgia. Aprendi a vender na raça.
Só mudei isso para uma outra volumetria e um outro tipo de produto. Mas a minha base e a minha escola de venda foi arte.
A transição aconteceu por uma questão única: financeira. Eu precisava de mais receita. Fui pai muito cedo e percebi que com o auge da receita nesse segmento [o artístico], não me levaria para onde eu queria. Então, entendi que precisava de novas ‘cestas’ para colocar novos ovos. E foi assim que eu comecei a me arriscar.
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IM: Antes de começar a acertar nos negócios, você errou bastante.
FT: Errei muitas vezes. Eu quebrei sete empresas antes de fazer a primeira dar certo. Quando a oitava [empresa] acelerou, eu comecei a entender que a imagem também tinha um valor muito agregado muito bom e comecei a entrar em ‘media for equity’. Eu entregava a minha imagem por percentual de algumas operações.
Hoje, já não faço mais porque quando entro em um negócio, faço por meio de aporte, com cadeira no ‘board’ e no conselho. E, então, o negócio ganhou um volume que supria meu lado artístico, com uma receita 300% maior, eu tive que fazer uma escolha para poder dedicar melhor meu tempo.
Eu sabia que um lado ia meio que ‘abafar’ o outro. E foi isso o que aconteceu. Obviamente, não deixo morrer o meu lado artista. Estou, sempre que possível, participando de um negócio, mas o mundo corporativo tomou um tempo absurdo assim.
IM: E hoje você lidera mais de 10 negócios diferentes e setores diferentes. Como você divide esse tempo e atenção entre tantos negócios?
FT: Na verdade, na verdade eu lidero uma holding que tem 11 operações. Mas não estou em todos na linha de frente. Já é difícil tocar uma empresa com excelência, e 11 seria humanamente impossível. Mas eu sou sócio em 11 operações, estou no conselho de todas e uma vez por semana, ou a cada quinze dias, tenho uma reunião de conselho de cada operação.
São negócios distintos, de nichos diferentes, que exigem uma estratégia de operação e o empreendedor que está na linha de frente, que na maioria das vezes é meu sócio, é quem toca a estrutura e a estratégia
IM: Como construir negócios sustentáveis e transformadores?
FT: Não tem uma receita de bolo para isso. Mas a pessoa que está construindo um negócio inovador é quem faz jus a palavra empreendedor. Existe uma diferença muito grande entre o empresário e o empreendedor.
Empresário é o dono de um CNPJ e está tudo certo. Se ele for um bom maestro, ele não precisa ser um bom empreendedor.
O empreendedor é quem está resolvendo problema, está antenado e vendo o que está acontecendo com o segmento dentro do nicho dele, buscando as inovações. Para mim, a tradução para a palavra empreendedor é ‘resolvedor de problema’.
Vou dar um exemplo. Uma das empresas em que sou sócio, se chama Smooth, e já está com quase 50 lojas, em seis países. Em uma das entregas, a bebida, que é gelada, chegou meio ‘derretida’. Entendemos que acima de uma determinada temperatura, a embalagem não segurava o calor. Então, estamos desenvolvendo uma tecnologia para transporte de alimentos frios e quentes, que pode ser acoplada para o transporte de alimentos. É um novo negócio que surgiu de um incômodo.
Isso não é uma mentalidade só de empresas que estão começando. As maiores empresas do mundo têm em comum a capacidade de resolver problemas em grande escala. É isso que faz um negócio inovador. Isso significa que você pode ser um empreendedor dentro de um CNPJ de outra pessoa. É possível empreender sendo colaborador de uma empresa.
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IM: O Brasil é um país com muitos empreendedores. Mas, internamente, ainda parece não haver uma percepção da inovação que é feita aqui. O qu você acha que falta para mudar esse cenário?
FT: A forma como as pessoas empreendem no Brasil é muito ‘na raça’. Não tiro o mérito do empreendedor porque aqui são abertos milhões de CNPJs por ano. Mas muitos fecham também.
A culpa não é do empreendedor. O sistema educacional é completamente deficitário. As pessoas saem da escola sem saber fazer uma declaração de Imposto de Renda, sem saber emitir nota ou mexer com dinheiro. Era preciso ensinar isso na base, porque as pessoas vão mexer com isso para o resto da vida.
Por que não existe uma obrigatoriedade desde o ensino médio para um curso de educação financeira? Porque é mais fácil: o povo que não tem acesso, não reclama, não incomoda.
IM: Hoje, você é visto também como uma inspiração para muitos jovens empreendedores. Como que você lida com essa responsabilidade? Que forma você procura inspirar essas pessoas?
FT: Por muito tempo, eu mostrava as minhas conquistas de uma forma e não fazia ideia do impacto que isso causava nas pessoas. Quando comecei a ser chamado para palestras, comecei a ter um feedback que é um termômetro instantâneo e vi, de fato, que era possível ajudar as pessoas.
Mas tento deixar muito claro que tudo que eu mostro para vocês de resultado não é para me vangloriar. É para as pesoas entenderem que dá para sair do lugar que eu saí e chegar no lugar que eu cheguei. Não que ele seja o melhor lugar do mundo: tem muito para escalar ainda, mas já é muito relevante perto do lugar onde eu fui criado.
Dá trabalho, você tem que abrir mão de gente, de evento, de data comemorativa, abrir mão de um monte de coisa, mas se você quiser, dá para fazer.
Mas, da mesma forma que eu recebo ‘like’, eu recebo ‘hate’. Tento medir isso de uma forma bem saudável, partindo de um ponto de que o elogio e a crítica vão te levar pro mesmo lugar. O elogio exacerbado, te paralisa porque você acha que já fez, já está ótimo. E a crítica exacerbada te paralisa porque você acha que não serve para nada.
Eu procuro filtrar tudo. Fico meio surdo para o mundo, tento eliminar os extremos também e pegar o que faz sentido.
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