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Zona vermelha: como identificar gatilhos emocionais que sabotam o trader

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Um simples movimento no gráfico pode parecer inofensivo — até que o corpo reage antes da consciência. É nesse instante que o trader cruza o limite invisível entre a razão e o instinto. Foi assim que Thamara Di Lauro aprendeu a mapear um território invisível que, segundo ela, define o destino de muitos traders: a zona vermelha — o momento em que o corpo reage antes da consciência.

Convidada do 1° episódio da 4° temporada do programa Mapa Mental, no canal GainCast, Thamara contou que o conceito nasceu da própria observação. “Todo trader que tem constantes dias de fúria, como eu tive, tem um padrão repetitivo. Existe um botãozinho que ele liga naquele dia que, depois que ele liga, tudo acontece. E eu costumo chamar isso de zona vermelha”, explica.

Para ela, essa zona é o ponto em que o trader “deixa de ser ele mesmo” e começa a agir de modo puramente emocional.

“Zona vermelha é tudo aquilo que, depois que acontece, você ativa o sistema límbico, desliga o córtex pré-frontal — ou seja, o trader deixa de raciocinar de forma racional e passa a tomar ações completamente emocionais”

— Thamara Di Lauro, trader.

Do caderno ao autoconhecimento

Depois de reconhecer que seus dias de fúria seguiam o mesmo roteiro, Thamara decidiu registrar tudo. “Eu tenho um caderninho da época. Comecei a rastrear isso, tentar entender o que estava se repetindo, de onde vinha. E aí eu fui rastrear as minhas zonas vermelhas e fui entender”, relembra.

O exercício a levou a identificar gatilhos claros: perdas sucessivas, devolução de lucros e a sensação de “precisar recuperar”. “Eu comecei a classificar meus dias. Se o meu dia foi de loss, eu perguntava: foi técnico ou emocional? Se foi técnico, é do mercado, é estatístico. Mas se foi emocional, a responsabilidade é minha”, explica.

Um dos exemplos mais marcantes era o padrão de devolver o lucro.

“Quando eu começava o dia positiva e voltava para o zero a zero, automaticamente eu devolvia o lucro. O problema não era voltar ao zero, era que a minha mente interpretava isso como uma perda. E aí acionava o gatilho do ‘vamos recuperar”

— Thamara Di Lauro, trader.

Quando o corpo assume o controle

Thamara explica que o problema não está apenas na emoção, mas no mecanismo biológico que toma o comando.

Para ela, o conceito de controle emocional é mal interpretado no mercado. O trader não deve tentar “domar” o que sente, mas reconhecer os sinais antes de ser dominado por eles. “Você não controla o que já se instalou. O que você faz é ter autovigilância. É perceber quando está prestes a entrar nesse estado e cortar o gatilho antes”, orienta.

Esse entendimento, segundo Thamara, foi o divisor entre operar no impulso e operar com lucidez.

“Eu achava que tinha que controlar o emocional. Hoje eu sei que não. A questão é se observar. É vigilância constante, não repressão”

— Thamara Di Lauro, trader.

Gatilhos, padrões e luta interna

Thamara entendeu que as zonas vermelhas são padrões mentais automáticos — e que cada trader precisa reconhecer os seus. “Todo trader vai ter os seus padrões de autossabotagem, que alimentam essa zona vermelha. A grande questão é entender, no dia ruim, quais são acionados”, observa.

Ela cita comportamentos comuns que servem de gatilho: aumentar a mão após um loss, fazer preço médio para “se salvar” ou insistir em recuperar o dia. “O trader é stopado duas vezes no mesmo local, devolve o lucro, entra em overtrading. Tudo isso é gatilho”, explica.

Mais do que técnica, é um jogo interno entre instinto e consciência.

“Essas zonas vermelhas não desaparecem. Elas enfraquecem. Quando o trader entende o que o tira do tino na frente da tela, ele não destrói o padrão — ele tira energia dele”

— Thamara Di Lauro, trader.

A nova resposta do cérebro

Estudar Programação Neurolinguística (PNL) e neurociência ajudou Thamara a transformar teoria em prática. “Você não muda comportamento pela PNL. O que existe é criar um novo comportamento no lugar do comportamento que te sabota”, explica.

Com isso, ela passou a criar respostas novas diante dos gatilhos. “Hoje, se eu sou estopada duas vezes na mesma região, eu dou um pause, porque ali eu tô cortando uma possível fúria”, exemplifica.

O medo, segundo ela, pode ser aliado. “Você tem que ter medo do que te tira do tino na frente da tela. É um medo de prudência, do tipo: ‘Depois disso, eu já não sou mais eu’”, afirma.

Ao final, Thamara resume: autoconhecimento não é controle, é vigilância.

“O segredo está em entender a origem do comportamento, não o resultado final. O mercado só te mostra o que já estava aí dentro”

— Thamara Di Lauro, trader.

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